O meu bisavô pertencia à Guarda Real, aquando do Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.
Guarda Real que foi surpreendida e não foi capaz de evitar a consumação deste acto, embora tenha de imediato reagido e executado no local os assassinos.
Foi por isso, em vários sentidos, um choque para ele e para todos em sua casa, a morte do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe.
A minha avó Sofia, na altura com 8 anos de idade, guardava uma forte recordação desse dia, que se foi consolidando, devido ao muito que o reviveu com os pais e com os irmãos mais velhos.
Essas memórias foram-se mantendo e foram-me depois passadas e a curiosidade do que para muitos é apenas mais um momento histórico tem para mim uma dimensão afectiva muito especial.
Talvez por isso, tivesse nascido em mim a vontade de conhecer a verdadeira natureza desse acto terrível, tendo acabado por descobrir que ele em nada contribuiu para a melhoria do que quer que fosse neste País. Pelo contrário! Foi um assassinato estúpido e bárbaro cometido por fanáticos políticos de vistas muito curtas. Nada mais!
Em Portugal é, desde sempre, muito complicado, conviver com ideias diferentes. Quer as elites, quer o Povo em geral têm muita dificuldade em respeitar opiniões adversas, têm muita dificuldade em conviver pacificamente com opositores.
Um adversário político bom não é um adversário político morto! Não é um inimigo a abater!
Seria muito proveitoso, à semelhança do que se faz em países civilizados, que se habituasse as crianças desde muito pequenas a realizar debates de ideias. A serem confrontadas com ideias diferentes das suas. A serem obrigadas a responder pacífica e racionalmente a argumentos contrários aos seus.
Todos nós já vimos quer em pequenos círculos de amigos, quer mesmo na Televisão, situações em que a discussão de argumentos contrários é feita exaltadamente, levando frequentemente ao insulto pessoal.
Esse barbarismo levou, em 1908, D. Carlos e D. Luís Filipe à morte.
Esperemos que se venham a retirar todas as lições deste acontecimento.
Espero também que nesta passagem dos 100 anos deste acontecimento, ele seja evocado com a dignidade que ele merece e sem o erro primário de mencionar os nomes dos assassinos.
Estou curioso, relativamente ao que a comunicação social irá fazer a este respeito.
Há 14 anos