quinta-feira, setembro 21, 2006

Nova temporada - A DERROTA DO SILÊNCIO

Anne Sophie Von Otter

Inicia-se no próximo dia 4 de Outubro uma nova temporada na Gulbenkian. Inicia-se mais precisamente com um espectáculo do ciclo de canto com uma das melhores cantoras líricas da actualidade, a meio-soprano Anne Sophie Von Otter.

Infelizmente para os mais desatentos já é tarde para adquirirem bilhetes. Estão esgotados já há semanas, pelo que não poderão assistir à sua revisitação de Brecht, mas também de Charles Trenet e de... os ABBA... pois é....

Ora esta nova temporada vai trazer-nos magnificos cantores e solistas, de que a seu tempo falarei. Hoje, no entanto, já que estamos muito próximos da sua abertura, gostaria de deixar um alerta, muito particular:

Passo a explicar:

Sempre que vou a um concerto, fico convencido de que o público português é um dos mais constipados do mundo. As tosses, as gosmas e outros grunhidos mais ou menos surdos e roucos tornaram-se quase uma normalidade, nomeadamente na mudança de andamento, o que é um dos actos mais cretinos que se pode ter numa récita.

No entanto e apesar disso tenho sido um priveligiado. Tenho ouvido histórias patéticas de mau comportamento do público que me deixam arrepiado, felizmente não estive pessoalmente presente... mas poderia ter acontecido... deixo aqui uma delas em que me deixou deveras impressionado.

Ocorreu no ano passado e passo a transcrever um excerto do texto do jornalista Eurico de Barros, do Diário de Notícias de 12 de março de 2005, intitulado

A DERROTA DO SILÊNCIO:


"Lisboa, Teatro São Luiz, noite de quinta-feira. Um telemóvel toca logo no início do recital do pianista português Artur Pizarro e é sonoramente atendido. O músico pára a execução da peça e retoma-a logo a seguir. Mais adiante, torna a ouvir-se outro toque, mas desta vez Pizarro não pára. A seguir ao intervalo, soa outro telemóvel, longamente, porque o proprietário nem se digna desligá-lo. Artur Pizarro deixa de tocar e diz à criatura "Atenda, que eu paro. Mas saia". E pega nas partituras, levanta-se e vai-se embora. Há burburinho na sala e é anunciado que o pianista não regressará. O dono do telemóvel que estragou a noite a Pizarro e ao público do São Luiz dirige-se à bilheteira para exigir o dinheiro de volta, porque o recital foi interrompido..."

Sem outros comentários, aproveito para recordar que também Artur Pizarro estará na Gulbenkian nos próximos dias 1 e 2 de Fevereiro, oferecendo-nos a sua interpretação de Tchaickovsky, numa récita com o seguinte programa:

ORQUESTRA GULBENKIAN

CRISTIAN MANDEAL (maestro)

ARTUR PIZARRO (piano)

Mikhaïl GlinkaAbertura da ópera Ruslan e Ludmilla

Piotr Ilitch TchaikovskyConcerto para Piano Nº 1, em Si bemol maior, op.23

Max RegerVariações e Fuga sobre um tema de Mozart, op.132

Sobre Artur Pizarro, para além da história triste já referida, gostaria de deixar algumas das referências internacionais que revelam o prestigio e a consagração deste jovem pianista português:

'Pizarro performs prodigies in getting around these unfamiliar scores with hair-raising aplomb and the utmost conviction' (Piano International)
'Goza, además, de una toma sonora espléndida' (Scherzo, Spain)
'A marvellously recorded programme … a joy to listen to' (Gramophone)
'Pizarro gives the music exactly the full-bodied treatment [the piece] requires. A fine, satisfying disc, well worth exploring' (Fanfare, USA)
'To hear Pizarro is always a pleasure … lyrical phrasing wrapped in one of the most entrancing and expressive pianissimos of any pianist' (International Record Review)


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