O Washington Post publicou na imprensa americana, o DN na imprensa portuguesa e Daniel Ferreira fê-lo na nossa blogosfera, escrevendo o que agora transcrevo e que, para além da curiosidade do facto, merece uma séria reflexão"Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, numa estação de metro de Washington, de manhã, em hora de ponta, despertando pouca ou nenhuma atenção.
A provocatória iniciativa foi da responsabilidade do jornal "Washington Post", que pretendeu lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares.
Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares, mas na estação de metro foi ostensivamente ignorado pela maioria.
A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o jornal, indicará que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós.
"Foi estranho ser ignorado"Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total.
Esse facto, aparentemente, não impressionou os utentes do metro. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um telemóvel toca. Mas no metro as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou.
O sucedido motiva o debate foi este um caso de "pérolas a porcos"? É a beleza um facto objectivo que se pode medir ou tão-só uma opinião?
Mark Leitahuse, director da Galeria Nacional de Arte, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará".
Para outros, como o escritor John Lane, a experiência indica a "perda da capacidade de se apreciar a beleza". O escritor disse ao "Washington Post" que isto não significa que "as pessoas não tenham a capacidade de compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante"."
Querendo saber mais sobre este jovem violinista que já nos visitou em 2001, aconselho a visita ao seu site, onde se pode escutar excertos das suas gravações:
Há 14 anos
Não li o artigo do Washington Post mas a julgar pelo que aqui está descrito surpreende-me que esta experiência tenha tido como objectivo discutir a arte, beleza e contextos. “A arte tem de estar em contexto”?!? Eu diria antes que as pessoas têm de estar predispostas a apreendê-la. Numa estação de metro, quem tem tempo e disponibilidade para parar e escutar? Somente as crianças, obviamente. Se a mesma experiência se tivesse realizado no Central Park a um sábado soalheiro muito provavelmente que as reacções teriam sido bem diferentes e não seriam só as crianças que parariam!
ResponderEliminarExacto.
ResponderEliminarO contexto abarca esse mesmo exemplo.
A beleza, na maior parte das vezes não se impõe por ela própria, mas pelo circunstancionalismo em que surge...
Por isso mesmo é que este desafio que Bell aceitou é muito interessante. Provou o que se intuía... mas que na prática não se tinha ainda testado...
É um exercício académico curioso... que não nos dá nada mais do que uma nota sobre a natureza humana e da vida em sociedade como nós a conhecemos.