terça-feira, abril 10, 2007

Música no Coração

Fui ver o musical produzido por Filipe La Féria.
Bom pretexto para voltar ao Blog.
O que dizer do que vi?
Digo que ficou um sentimento de frustração!
E já nem refiro a fraca qualidade do espectáculo, refiro a dissolução da magia que esta obra comporta e que transpareceu sempre que a tinha visto, ou ouvido.
Uma magia que vinha pela música excepcional, pela ambiência, pelas interpretações, pelo apuro do canto, pela beleza de Salzburg, pelas grandiosas montanhas que Robert Wise tão bem soube filmar.
Mas frustração porquê? Claro que não estava à espera de ver no palco Julie Andrews ou Mary Martin.
Claro que não estava à espera de ter a Broadway ou o West End nas Portas de Santo Antão.Então o que esperava?Esperava não ver uma récita de amadores, cuja qualidade artistica se resume a cantar afinadamente.
Anabela, que nessa noite foi a protagonista, esteve bem nas canções, mas a sua representação revela uma completa falta de vocação para a arte de Talma. Não consegue ser minimamente convincente… Foi sempre a Anabela mascarada de Maria…
Carlos Quintas, o moreno Von Trapp parecia querer despachar o texto em grande velocidade.
Joel Branco, o Max Detweiler de serviço idem, idem… num tom revisteiro que não percebo a que propósito ali foi metido.
Vera Mónica, a Baronesa Elsa Schroeder e a sua pobre peruca loura, parecia mais longe da sofisticada Eleanor Parker do que de uma qualquer matrona do Intendente. Sempre em over-acting, não conseguiu em nenhum momento dar-nos a figura distante e elegante da aristocrata vienense deslocada nno meio provinciano de Salzburgo.
O mordomo e os dois oxigenados criados da casa, saricoteavam-se mais à laia de animadores do Trumps do que de serviçais de uma casa senhorial.
A Liesl portuguesa de tão novinha, parecia uma nervosa vítima dos avanços pedófilos de um Rolf relativamente consistente.
O desequilíbrio entre os dois era tão gritante, que as suas insuficiências de representação e de canto, tornaram-se quase patéticas quando chegaram ao tema "16 quase 17"
Será que La Féria não sabe dirigir actores? Será que lhe basta ter no palco pessoas que apresentem um texto, e não que o representem....
E quem teria feito a adaptação das canções?.... Depois de duas bem conseguidas ("As coisas que eu gosto" e "Do Re Mi") deve-se ter cansado e nunca mais conseguiu uma métrica ajustada e a sonoridade adequada.
O que terá levado La Féria a não ter utilizado nenhuma das versões anteriores?Apenas o não ter que repartir direitos de autor? E a qualidade artística, onde ficou?Frustação.... É claro que sim... Este é um musical de referência... que merecia mais e melhor!
Foi tudo mau?... Claro que não!... Lia Altavila (magnifica no Climb every mountain), Helena Rocha (apesar de parecer mais ela própria do que a Governanta) e boa parte da cenografia.
Quanto a esta apenas um reparo para a solução que foi escolhida para a noite de Baile. Pôr os convidados a dançar num corredor... ainda que com espelhos... é no mínimo, disparatado. Mas enfim... foi uma solução fácil e económica. Triste também!
Um espectáculo muito fraco..., com músicas fabulosas e maioritariamente bem cantadas....E tão só.
Vi, fiquei desapontado e não aconselho.