domingo, maio 08, 2011

Regresso temporário para uma modesta opinião, possivelmente minoritária

Faço hoje um breve retorno à blogosfera, sendo que possuo uma quase impossibilidade de vir até aqui regularmente

Neste período em que estive ausente a crise ganhou força e tornou-se tema obrigatório!

Todos os dias, em todos os meios de comunicação social, há análises e comentários, certamente mais interessantes e melhor informados do que os meus poderiam ser, pelo que hoje limitar-me-ei falar de um "fait-divers"!

Foi recentemente produzido e começou a ser divulgado um vídeo, julgo que patrocinado pela Câmara de Cascais:



Acho-o curioso, vejo o entusiasmo que suscita, mas sinceramente não o partilho, pois a verdade é que o acho tristemente lamentável!

Como em todos os Países do mundo existem grupos radicais e gente parva. É o que acontece na Finlândia com o chamado “Partido dos Verdadeiros Finlandeses”.



Tomar a parte pelo todo, que é o que está implícito no vídeo, é algo pouco sensato e espero que não seja uma prática que se generalize, pois lembremo-nos que o nome de Portugal estará nos próximos dias associado mediaticamente a figuras como o “Jel” e o “Falâncio”!



É verdade que em 1940, após a “Guerra de Inverno” com a URSS, a Finlândia foi ajudada por vários países ocidentais, nomeadamente por Portugal, com um carregamento de 19902 latas de sardinha, ananases, cobertores e cereais, cujo valor total a preços actuais corresponderia a cerca 200.000 Euros. Um esforço simbólico, mas significativo, de um povo que era e ainda é o mais pobre da Europa Ocidental.

Não creio que o espírito de actos humanitários do povo português, feitos com genuína generosidade, possa admitir que eles venham a ser transformados posteriormente em instrumentos de arremesso para serem jogados à cara de quem foi ajudado.

Vir lembrar o que aconteceu, com o intuito de "cobrar favores” é algo de demasiado deselegante e, digamos assim, até mesmo “rasca” (para utilizar um termo agora em moda), sendo no meu entender ofensivo para a memória de quem no século passado se empenhou em ajudar com genuino afecto, ainda que modestamente, um outro povo.



Somos um País que deu vários contributos para a humanidade e que o mundo conhece. Não é preciso andar a lembrar o que de positivo fizemos para sugerir uma eventual superioridade ou grandeza histórica.

A grandeza de Portugal não precisa de spots publicitários!

Spots onde há, para além do mais, o mau gosto de fazer uma comparação numérica entre os judeus salvos por Aristides Sousa Mendes e os salvos por Oscar Schindler, em paralelo com a qualidade futebolistica do Ronaldo português com o Ronaldo brasileiro.

Spots onde há o ridículo de colocar entre as nossas proezas ciêntificas a invenção do pastel de nata e o absurdo de, neste contexto, referir que no século XVIII o rendimento do Rei de Portugal era 30 vezes superior ao do Rei de Inglaterra.

Será que quem imaginou este "desfile" das nossas "grandezas" não pensou no risco de nos virem recordar dos nossos muitos "pecados":

O imenso tráfico esclavagista que fizemos durante séculos, a tenebrosa Inquisição com que o Estado Português conviveu de mãos dadas, a expulsão dos judeus, cujo reconhecimento como cidadãos nacionais de pleno direito fomos os últimos a concretizar na Europa (já no século XX) uma feroz ditadura de 48 anos, a anacrónica teimosia colonial que tantos milhares de mortos custou, a maior taxa de analfabetismo da Europa Ocidental, etc, etc….

O que penso que poderemos fazer, caso a Finlândia, venha a ser um entrave à concretização do empréstimo ao nosso País, é procurar activamente boicotar os produtos finlandeses, nomeadamente a NOKIA, aqui e em toda a parte onde possamos ter alguma influência.

Quanto a acções como esta, sinceramente creio que só produzirão o efeito contrário ao pretendido. A mentalidade que lhe está subjacente revela que há aqui gente algo confusa quanto à importância que alguns créditos históricos têm relativamente ao seu crédito financeiro para o futuro !