quinta-feira, maio 08, 2008

Dalida



No passado sábado completaram-se 21 anos sobre a morte de Dalida (1933-1987)

Poucas personalidades do mundo artístico nos anos 60, 70 e 80 provocaram tanta emoção ao público, como aconteceu com esta cantora.

Mais de 30 biografias, já foram publicadas sobre ela e a sua vida já deu origem a obras de ficção escrita, canções e filmes.

Talvez mais do que por ser uma personalidade artística incomum, toda esta atenção se deva ao facto de ter tido uma vida tão gloriosa quanto romanticamente trágica.

De ascendência italiana, de seu nome Yolanda Gigliotti, nasceu no Egipto, onde viria a tornar-se tornar-se rainha de beleza.

Com o título de Miss Egipto na bagagem, parte para Paris em 1955, onde de imediato inicia uma carreira artística que será de sucesso ininterrupto.






Contudo, a sua vida privada foi um mar de problemas e de sofrimento, sempre sob os olhares ávidos do público.

Tendo-se ligado muito jovem ao director de rádio Lucien Morisse, veio a divorciar-se ao fim de 5 anos de vida em comum.

Lucien Morisse viria a suicidar-se poucos anos depois, no que foi um dos sucessivos acontecimentos trágicos que marcariam a sua vida.

Dalida, entretanto, passados dois anos do seu divórcio, viria a apaixonar-se pelo talentoso, mas perturbado, cantor italiano Luigi Tenco.

Depois de muitos esforços, Dalida convence-o a entrar no certame musical mais famoso de Itália, o Festival de San Remo.





Na noite de 27 de Janeiro de 1967, após a divulgação dos resultados, Tenco não conseguiu aguentar a frustração por a sua canção Ciao Amore, Ciao, não se ter classificado!

Enquanto Dalida e a sua equipe o esperavam num restaurante, ele punha termo à vida no quarto do hotel onde se encontravam hospedados.

Acaba por ser Dalida, poucos minutos depois, a encontrá-lo morto no quarto. Um mês mais tarde será a vez de Dalida tentar o suícidio.

Uma semana depois ao sair do coma, ficou patente, para todos os seus mais próximos, que ela nunca mais viria a ser a mesma pessoa.

Com este acontecimento e com esta canção o público de Dalida veio demonstrar o quanto a admiração por um artista pode ser egoista e até mesmo cruel! Daí em diante, a canção que levou Tenco à morte, tornou-se numa obrigação contratual incontornável para todos os espectáculos de Dalida.

Nessas alturas, o olhar triste e vazio da cantora, e as lágrimas que muitas vezes não conseguia reprimir eram, para o público, o ponto mais alto de todo o espectáculo. O público que adorava a cantora, gostava em simultâneo de assistir ao espectáculo do seu sofrimento.

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Nos últimos anos de vida, Dalida tentou fugir à solidão em que vivia, tendo encontrado um novo companheiro em Richard Chanfray.

Infelizmente para ela, este seu envolvimento não viria a ser menos problemático que os anteriores, dado que quando se conheceram ele estava a entrar num processo psicológico que o conduziria posteriormente a comportamentos violentos e à loucura.

Após alguns anos de casamento com este homem, que afirmava ter 17.000 anos e ser capaz de transformar metal vulgar em ouro e água em vinho, Dalida conseguiu o divórcio. E poucos meses depois Chanfray viria também a suicidar-se.

Apesar de toda a sucessão de dramas que viveu, Dalida conseguiu sempre manter inalterados o ritmo e o sucesso da sua carreira tanto em França, como no resto da Europa e nos Estados Unidos.

Mas esse sucesso nunca lhe conseguiu dar o suplemento de alma de que necessitava para querer continuar a viver.

Um mês antes de morrer, disse a um amigo, que se ninguém pode escolher o momento em que nasce, ela poderia, no entanto, vir a escolher o momento da sua partida.

E, na verdade, em 3 de Maio de 1987, Dalida, mulher bela, rica, famosa e admirada por milhões de pessoas, recusa-se a continuar prisioneira da solidão e da tristeza que o destino lhe impôs, e suicida-se com uma dose excessiva de barbitúricos.

Deixa um pequeno bilhete, onde estava escrito:“A vida para mim é insuportável… perdoem-me”

A sua voz e as suas capacidades interpretativas, tinham a marca profunda da sua vida conturbada. Com Dalida, a dor transfigurou-se também numa forma de arte, fazendo-nos sentir que alguns dos seus momentos mais terríveis eram, simultaneamente momentos passados para o público de forma artisticamente inesquecível.

A sua interpretação de Je suis Malade no Olympia, em 1981, é disso um exemplo perfeito, pelo que tem de visceralmente emotiva e interpretativamente sublime.



Dalida, pelo seu contributo excepcional para a canção francesa e pela relação de afecto que estabeleceu com a nação gaulesa recebeu, em vida, a mais alta das condecorações do Estado francês e, vinte anos após a sua morte, em recente estudo de opinião, foi considerada a segunda personalidade mais importante do século XX, em França, logo a seguir ao General De Gaulle.

Dalida, está pois bem presente na memória de todos os seus admiradores. O ano passado, ao completarem-se vinte anos da sua morte, França rendeu-lhe um conjunto vasto de homenagens, com a inauguração de estátuas e atribuição do seu nome a ruas e praças. A Câmara Municipal de Paris dedicou-lhe uma exposição recordatória que esteve 5 meses patente ao público…

No entanto, apesar da memória, ficou para além da saudade, um imenso e profundo vazio...