segunda-feira, janeiro 28, 2008

A semana do Regicídio

O meu bisavô pertencia à Guarda Real, aquando do Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908.

Guarda Real que foi surpreendida e não foi capaz de evitar a consumação deste acto, embora tenha de imediato reagido e executado no local os assassinos.

Foi por isso, em vários sentidos, um choque para ele e para todos em sua casa, a morte do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe.

A minha avó Sofia, na altura com 8 anos de idade, guardava uma forte recordação desse dia, que se foi consolidando, devido ao muito que o reviveu com os pais e com os irmãos mais velhos.

Essas memórias foram-se mantendo e foram-me depois passadas e a curiosidade do que para muitos é apenas mais um momento histórico tem para mim uma dimensão afectiva muito especial.

Talvez por isso, tivesse nascido em mim a vontade de conhecer a verdadeira natureza desse acto terrível, tendo acabado por descobrir que ele em nada contribuiu para a melhoria do que quer que fosse neste País. Pelo contrário! Foi um assassinato estúpido e bárbaro cometido por fanáticos políticos de vistas muito curtas. Nada mais!

Em Portugal é, desde sempre, muito complicado, conviver com ideias diferentes. Quer as elites, quer o Povo em geral têm muita dificuldade em respeitar opiniões adversas, têm muita dificuldade em conviver pacificamente com opositores.

Um adversário político bom não é um adversário político morto! Não é um inimigo a abater!

Seria muito proveitoso, à semelhança do que se faz em países civilizados, que se habituasse as crianças desde muito pequenas a realizar debates de ideias. A serem confrontadas com ideias diferentes das suas. A serem obrigadas a responder pacífica e racionalmente a argumentos contrários aos seus.

Todos nós já vimos quer em pequenos círculos de amigos, quer mesmo na Televisão, situações em que a discussão de argumentos contrários é feita exaltadamente, levando frequentemente ao insulto pessoal.

Esse barbarismo levou, em 1908, D. Carlos e D. Luís Filipe à morte.

Esperemos que se venham a retirar todas as lições deste acontecimento.

Espero também que nesta passagem dos 100 anos deste acontecimento, ele seja evocado com a dignidade que ele merece e sem o erro primário de mencionar os nomes dos assassinos.

Estou curioso, relativamente ao que a comunicação social irá fazer a este respeito.



sábado, janeiro 05, 2008

Palácio da Ajuda

Aconselho vivamente uma visita ao Palácio da Ajuda em Lisboa.

Aí poderá encontrar cortinas a cair de podres, mobiliário envelhecido e mal tratado, paredes forradas a tecido esfarrapado, fios electricos e de telefone visiveis na decoração oitecentista e um perfeito ar de abandono e de decadência.

Se gosta de se sentir num país de terceiro mundo, de ter motivos visiveis e palpáveis para se envergonhar de ser português, não deixe de ver este monumento nacional.

Já foi um palácio real, agora é um monumento à incompetência e ao atraso deste pobre país.

Passarão no próximo dia um de Fevereiro cem anos sobre o regicídio... Parece contudo que a matança da nossa história tem continuado ao longo das últimas décadas... Vá ao Palácio da Ajuda e testemunhe ao vivo um crime à nossa memória colectiva...