sexta-feira, outubro 01, 2010

FRANGO

Vou partir dentro de poucas horas para uma breve estadia na cidade de Valência, a terceira cidade de Espanha.

E estando aqui tão perto é para mim estranho que não seja mais conhecida no nosso País aquela que é considerada a “voz de Valência”. Falo de Francisco, de seu nome completo Francisco González Sarriá. Uma voz verdadeiramente excepcional.



As versões mais populares e conseguidas dos Hinos da Comunidade de Valência e das festas da cidade as “Fallas” estão na sua voz.

Não será apenas Francisco que é pouco conhecido em Portugal, o mesmo acontece com a maioria dos intérpretes espanhóis que infelizmente desde os anos 70 deixaram de passar nas nossas rádios e televisões.

Bom, mas a verdade é que mesmo em Espanha Francisco, apesar de ser muito conhecido e prestigiado, não é propriamente um artista comercializável.

Vindo de uma família muito pobre e tendo uma voz poderosíssima o seu caminho artístico iniciou-se na música ligeira, quando seria óbvio que estava talhado para uma carreira no canto lírico.

Acabou assim por lhe acontecer o inevitável, no mundo da música popular:

Foi quase sempre um peixe fora de água, com poucos autores capazes de escrever para a sua voz. Uma voz que, infelizmente, para editoras, autores e boa parte do público parece ter surgido já fora tempo!

Vejamo-lo aqui no inicio da sua carreira, com pouco mais de 20 anos e uma voz excepcionalmente madura para a sua idade, numa altura em que já usava o seu nome próprio “Francisco” como nome artístico, isto após ter iniciado a sua carreira sob o nome de FRANGO, nome retirado das iniciais do seu nome próprio e do seu apelido paterno.



Apesar de não conseguir ser popular junto do público da sua própria idade e de vender poucos discos, em regra acabava por vencer todos os concursos para cantores, sendo igualmente o único artista a ganhar por duas vezes o Festival da OTI…. O que, diga-se de passagem, não é propriamente uma credencial de peso.

Remeteu-se pois a cantar versões de canções de outros artistas, normalmente bem escolhidas, mas tendo com isso sucessos limitados, em segunda mão, digamos assim.

Quando, após anos de estudo com Monserrat Caballé, tornou-se num dos seus alunos preferidos, acedendo então ao canto lírico, ao lado da própria Caballé em vários recitais por toda a Espanha.

Contudo,o preconceito do meio operático e do respectivo público, nunca deu as oportunidades necessárias a este cantor que vinha da música ligeira, fechando os olhos às suas qualidades.

Este acolhimento frio retirou-lhe a vontade de prosseguir por esse caminho, aonde apenas ocasionalmente faz incursões.

É um daqueles casos de artista que levará toda a vida a ser considerado como uma promessa para um futuro que nunca mais chega. Um artista com muito prestígio, que é aplaudido de pé sempre que actua, mas que não vende, nem é considerado como estando na música ligeira ou no campo clássico…

Acontece... Já aconteceu com outros cantores, desde Claudio Villa em Itália a Luis Piçarra em Portugal e é um desperdício!

Deixo estes dois vídeos, onde as suas qualidades como cantor são por demais óbvias e merecedoras de serem divulgadas no nosso País:





E até à segunda quinzena de Outubro!