quarta-feira, agosto 06, 2008

Devo estar errado!!!!





Todos os anos, há sempre na minha vizinhança, um ou outro condomínio que resolve fazer as indispensáveis obras de manutenção no seu edifício.

Todos os anos se verifica também que, poucos dias após o prédio estar pintadinho, lá aparecem uns rabiscos ininteligíveis das mais variadas cores e tamanhos, com ou sem desenhos.

Há de tudo nestas sacrificadas paredes!

Confesso também que, apesar de tudo e da raiva que esta situação me transmite, por se tratar do sítio onde vivo, há locais bem mais sacrificados. O Bairro Alto, em Lisboa, por exemplo.

Foto retirada do Blog Round Stone



Foto retirada do Blog Cavaleiro Templário


Ao ver estas fotos, de um dos locais mais emblemáticos e visitados da nossa Capital, apenas vejo como lado positivo o sinal de transparência sobre a qualidade da nossa gestão autárquica e política.

Ver a degradação, o desleixo, o mau gosto, a sujidade e a porcaria que se encontra e amontoada naquele local traduz exactamente o nível de interesse, de preocupações e de amor que os nossos políticos autárquicos têm pela sua cidade. É um espelho magnífico deles e diz-nos exactamente o que deles podemos esperar.

O graffiti é hoje em dia matéria de debate, sobre se se trata de arte ou de vandalismo.

Confesso, que sobre este tema tenho tudo menos uma mente aberta e, de acordo com a minha opinião muito pessoal, permito-me reduzir as coisas a uma forma muito simples:

Num espaço que é público ou numa propriedade que é privada ninguém deveria ter o direito de pintar fosse o que fosse, só porque lhe apetece. Ainda que se trate de Arte!

Nasci em 1956, vivi 18 anos em ditadura e percebo muito bem a necessidade de num regime sem liberdades se ter de recorrer às mensagens murais para transmitir ideias, dar conhecimento de factos, manifestar apoios ou revoltas!

Quando os nacionalistas italianos queriam mostrar aos austríacos a sua presença, escreviam nas paredes VIVA VERDI, frase de duplo sentido: Homenagem ao grande compositor e ao que viria a ser o Rei da Itália unificada: Vítor Emanuel Rei De Itália.



Ou quando os cubanos querem dizer ao regime que não há unanimidade e que desejam ser livres, entende-se a lógica das suas inscrições murais.



No entanto qual será a justificação social, política e estética para algo como isto, que se encontrou numa estação de comboios do nosso País:



Vi algures, como definição de Graffiti, tratar-se de um movimento organizado nas artes plásticas, em que o "artista" aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade.

Mas quem lhe concedeu esse direito de interferência, na cidade que é de todos nós?

Apesar do Graffiti se tratar de algo que hoje pode ser encontrado em Museus, isso só por si não é passaporte nem credencial para nada.

A intervenção visual desordenada, avulsa, descontrolada feita no espaço público é para mim, absolutamente condenável e deveria ser firmemente combatida!




Se olharmos um pouco à nossa volta acabamos por perceber que quem dá esse direito de interferência, ainda que se possa considerar de forma indirecta, acabam por ser as próprias autoridades ao promoverem com os dinheiros públicos concursos de graffiti de norte a sul do País.

Deixo a seguir alguns exemplos e anúncios e regulamentos de concursos de Graffitis de Câmaras e Juntas de Norte a Sul do País (para ver mais em detalhe, fazer click sobre cada imagem):

Concurso de Graffiti - Câmara de Trofa


Concurso de Graffiti - Câmara de Santarém


Concurso de Graffiti - Câmara de Sintra


Concurso de Graffiti - Junta de Freguesia da Pena - Lisboa


Concurso de Graffiti - Câmara Municipal de Oeiras


Concurso de Graffiti - Câmara Municipal de Faro

Se de uma forma estrita se poderá dizer que aquilo que estas autoridades fazem é apelar ao sentido artístico tentando canalizar esse movimento para momentos e zonas específicas da cidade, de um ponto de vista mais geral a mensagem que acabam por passar é a de que a feitura de graffitis não tem nada de negativo, é legitima e até socialmente aceite.

Ora isso é exactamente o contrário do que eu penso como o adequado numa sociedade normal e civilizada!

Resta-me acrescentar que, como eu sou apenas um simples cidadão, o que eu acho ou deixo de achar decerto não valerá nada para os nossos dirigentes municipais!

Mas não será por isso que eu deixarei de me pronunciar contra estas atitudes de dirigentes e políticos de todas as cores que, ainda por cima, nunca se dão ao trabalho de dizer o que pensam destas coisas concretas da vida da cidade, quando se propõem conquistar votos!

Resta saber se eles sequer pensam... e se têm a noção de todos os efeitos e consequências que as acções que promovem acabam por produzir?

Admitindo que não é por por desleixo, incúria e incompetência que a autarquia lisboeta não faz nada para preservar o Bairro Alto destes "ataques artísticos", só poderei concluir que é porque entende que esta forma de "arte" valoriza aquela zona turistica e típica da cidade.

E se assim for, será que os nossos autarcas pensarão que, com o aspecto que apresenta resultante da "arte" com que profusamente se encontra decorado, este bairro antigo de Lisboa se transformou num especialissimo Museu a céu aberto?

Bom, é que face ao panorama terrível daquela importante zona histórica de Lisboa ou estamos perante incompetência, desleixo e a falta de amor pela cidade, ou estamos perante uma visão de estética urbana de pura bandalheira em que cada um faz o que quer e onde quer!

Qualquer das hipóteses é muito má! Mas é o que temos! Até quando?

Foto "Flick" do utilizador Sopra Mais - Rua do Bairro Alto