terça-feira, novembro 17, 2009

Villa-Lobos

Passam hoje 50 anos da morte de um dos maiores compositores clássicos do século XX: Heitor Villa-Lobos.

Para além de compositor, músico e maestro dedicou-se à pedagogia musical através da criação empenhada de inúmeros coros infantis, como método previligiado de levar a música aos mais jovens.

Aquando da sua morte o grande poeta Carlos Drummond de Andrade lembrou que:” Quem o viu um dia comandando o coro de 40 000 mil vozes adolescentes, no estádio do Vasco da Gama, não pode esquecê-lo nunca. Era a fúria organizando-se em ritmo, tornando-se melodia e criando a comunhão mais generosa, ardente e purificadora que seria possível conceber".

As suas influências musicais adquiriu-as tanto no estudo académico, como no autodidactismo, como ainda nas raízes folclóricas no interior norte do Brasil, embrenhando-se de tal maneira na sua actividade de recolha musical, que fica durante anos sem dar notícias à família! Quando regressa ao Rio encontra-a numa missa…. Em sua memória! Sua mãe julgara-o morto!



Avançado demais para o seu tempo, de inicio viu-se a braços com a incompreensão quer da crítica quer do público, quer ainda dos músicos seus contemporâneos. Quando convidado para dirigir a estreia da sua primeira Sinfonia os músicos da Orquestra recusam-se a tocá-la, designando-a por “uma coisa cheia de dissonâncias”.

Contudo, estes contratempos não o fazem desistir, muito pelo contrário, compõe e viaja e a sua fama espalha-se. O virtuoso Artur Rubinstein toma a iniciativa de se encontrar com ele, numa altura em que Villa-Lobos para sobreviver tocava numa orquestra de cinema.

Villa-Lobos incomodado, por ser encontrado naquela situação por Rubinstein, não aceita bem a visita do famoso pianista, mas no dia seguinte apresenta-se com um grupo de músicos no Hotel onde Rubinstein estava hospedado para lhe mostrar as suas músicas.

Rubinstein ganha uma consideração tal por Villa-Lobos que para o ajudar financeiramente chega a adquirir-lhe obras, sob o pretexto de haver terceiros interessados nelas.

Entretanto o prestigio do compositor vai aumentando, Paris torna-se um dos principais locais de actividade, em cujo conservatório chega a leccionar a par de Maurice Ravel, Manuel de Falla e Artur Rubinstein.

Os seus “Choros”, “Serestas” tornam-se famosos em todo o mundo. Tal como viriam a ser as suas Bachianas e Missa de São Sebastião. Torna-se maestro convidado em orquestras do mundo inteiro.

Contudo são as suas composições que acabam por o imortalizar. Homem simultaneamente difícil e simples era um bom vivant que alguns diziam ter sempre as mãos ocupadas: Numa um charuto, noutra um copo!

A sua morte aos 72 anos, faz hoje precisamente 50 anos, deixa todo o Brasil comovido e o mundo mais pobre, como na altura salientou o New York Times, que lhe dedicou o editorial.

No seu funeral milhares de pessoas estiveram presentes, enquanto nas escadarias do belíssimo Teatro Municipal um coro interpretava a Missa de São Sebastião.




50 anos passados, a sua obra perdura, sendo considerada de raiz profundamente brasileira é, pela sua riqueza, beleza e originalidade, de uma intemporalidade verdadeiramente universal.

Deixo aqui dois belos exemplos.

O primeiro trata-se do Choro nº 1, interpretado pelo extraordinário guitarrista Turibio Santos.



O segundo é, como não poderia deixar de ser a ária das Bachianas Brasileiras nº 5, na voz de uma das maiores cantoras líricas de todos os tempos, a também brasileira Bidu Sayão: