segunda-feira, novembro 24, 2008

Uma pausa necessária com uma canção inevitável


O tempo voa. Passaram dois meses desde o meu último post. 60 dias em que a vida e mundo nos reservaram muitas surpresas.

Enquanto em meados de Setembro, fazia umas magnificas férias em Budapeste, aqui em Lisboa, um familiar muito chegado via o seu estado de saúde deteriorar-se de forma quase galopante e praticamente irreversível!

De então para cá a minha vida alterou-se profundamente e a falta de momentos disponíveis e o meu próprio estado de espírito não me têm permitido vir até este espaço.

Confesso, no entanto, que tenho sentido saudades da blogosfera!

Saudades de escrever e também de visitar os blogs magníficos onde bebia diariamente textos e imagens que tanto me enriqueciam.

Pela amizade e generosidade, com que os meus pequenos textos foram sempre olhados pelos companheiros do mundo bloguistico, venho hoje deixar aqui um abraço a todos os que têm passado por este espaço e uma simples e curta mensagem:

A de que não desisti deste espaço e de que tenciono regressar a este meio, logo que a paz de espírito regresse e que volte o tempo disponível.

Mas porque os velhos hábitos não se esquecem facilmente, aproveito também para falar brevemente de uma música e de alguns dos seus intérpretes.

Uma música especial, que nesta altura da minha vida tenho recordado com bastante frequência e nostalgia, pois transporta-me a memórias muito queridas, tendo ainda por cima, por ela própria, um sentido muito particular!



Em 1945, Rodgers e Hammerstein estrearam o musical Caroussel, e como a vida pode ser surpreendente, uma simples canção desta peça, viria a tornar-se inesperadamente um hino popular, cantado tanto fervorosamente em Igrejas, como respeitosamente em cerimónias cívicas, como ainda entusiástica e freneticamente pelas multidões em estádios de futebol.

Na verdade You’ll never walk alone, que é como se chama esta canção, é um verdadeiro hino de solidariedade, para todos os que passam por momentos difíceis e precisam vencê-los.

You’ll never walk alone, tornou-se parte integrante das liturgias de muitas das igrejas cristãs, mas também no hino do Liverpool, do Celtic, do Borussia de Dortmund e de muitos outros clubes da Europa, dos Estados Unidos e até da Coreia e do Japão.









Esta canção acabou por se tornar, à escala mundial, num hino de incentivo e de esperança, que eu recordo como arrepiante em duas ocasiões diversas, quando o escutei pela televisão, uma primeira vez num coro de milhares de vozes que receberam João Paulo II na Escócia em 1982, e depois na cerimónia de homenagem póstuma às vitimas do 11 de Setembro, pela voz de Barbra Streisand, poucos dias depois do atentado de 2001!


O seu texto é simples, muito claro e muito belo:

When you walk through a storm hold your head up high,
And don't be afraid of the dark.
At the end of a storm is a golden sky
And the sweet silver song of a lark.

Walk on through the wind,
Walk on through the rain,
Tho' your dreams be tossed and blown.

Walk on, walk on with hope in your heart
And you'll never walk alone,
You'll never, ever walk alone


Por isso, mais do que escolher uma música, como é habitual neste espaço, a verdade é que esta canção se me impôs, pensando necessariamente em alguém que me está próximo e que está tão precisada de esperança, como de apoio.

Cantada por imensos cantores, desde 1945 até aos dias de hoje, de Plácido Domingo a René Fleming, de Sinatra a Alicia Keys, ouvi-a dezenas de vezes na voz de Mário Lanza, um dos cantores preferidos da minha mãe, num disco bem velhinho, que penso ter sido comprado pelos meus pais no final da década de 50, aquando do desaparecimento deste jovem cantor.






Contudo a primeira versão que conheci desta canção foi a da cantora Jane Froman que o meu pai me deu a conhecer, também numa gravação bem antiga.

Jane Froman, uma popular cantora da Broadway, tivera uma ligação muito especial a Portugal, ao ter sido uma das poucas sobreviventes de um trágico acidente de aviação ocorrido no Tejo no ano de 1943.

Um dos tripulantes do hidroavião apesar de muito ferido, conseguiu salvar a cantora, que se encontrava inconsciente, de morrer afogada, permitindo que apesar dos graves traumatismos que sofreu, ela sobrevivesse.



Para rematar este acto heróico, os dois vieram a apaixonar-se no hospital onde ficaram internados vindo pouco tempo depois a casar-se, retomando Froman a sua actividade de entertainer dos soldados americanos, mesmo de muletas e cadeira de rodas, o que a obrigou posteriormente a mais de 38 operações às pernas até conseguir recuperar.

Estes factos romanescos em plena 2ª Guerra Mundial tocaram na altura profundamente os corações dos portugueses e tornaram-se numa das primeiras histórias sobre o mundo artístico, que os meus pais e os meus avós me contaram na minha infância.

Deu também esta história origem a um filme de Hollywood que fez um enorme sucesso na época: With a song in my heart e que valeu a Susan Hayward uma nomeação para os Óscars desse ano!

Por todas as razões, que se prendem com afectos e gostos ligados aos melhores momentos da minha infância e juventude, esta é uma canção muito especial para mim!


Contudo hoje, não escolhi nem Lanza nem Froman para trazer aqui esta canção.


Trago uma voz que sempre me fascinou e que incompreensivelmente passou despercebida em Portugal, apesar de noutros países europeus ter alcançado grande popularidade, à semelhança do que acontecia nos Estados Unidos.


Falo da cantora norte-americana Timi Yuro, e a explicação mais plausível que encontro para pouco ter sido ouvida no nosso país, é talvez a de que ela apenas possuía qualidade vocal, sem ter propriamente os atributos de escândalo ou de sensualidade que lhe dariam decerto maior notoriedade entre nós.


Timi Yuro,foi uma cantora fantástica que infelizmente perdeu a voz prematura e dramaticamente em 1984, com pouco mais de 40 anos, devido a um cancro na garganta.

Timi que viria a padecer para o resto da vida das sequelas desta doença, veio a falecer em 2004 aos 63 anos e é considerada por muitos críticos como uma das melhores vozes brancas de sempre de R&B, tendo sido referida como a cantora preferida de muitos dos seus colegas!

Elvis e Morrissey, explicitamente assim a consideraram e até mesmo Sinatra, durante muitos anos não prescindia da sua presença, como primeira parte dos seus espectáculos.

É com o hino de esperança que é You’ll never walk alone, que tantas memórias me traz nestes dias difíceis, e com a preciosa voz de Timi Yuro que vos deixo por hoje, acrescentando apenas, com amizade, um simples “até breve”!