segunda-feira, agosto 31, 2009

Vou de férias… durante os próximos quinze dias estarei fora de Portugal e tentarei descansar um pouco num país de que gosto particularmente: a Polónia.

Antes de partir, no entanto resolvi falar um pouco de dois assuntos, um recente e outro mais antigo, pois um trouxe-me à lembrança o outro.

Passo a explicar:

“Um fado xunga e mal falado”… É assim que termina a versão criada por Hermínia Silva para o Fado Falado que foi apresentado nos palcos de uma revista nos finais da década de 40 por João Villaret.

O texto é de um grande autor da época Nelson de Barros e João Villaret, um dos maiores actores e declamadores portugueses de sempre, tornou-se num mito e dos mitos nunca convém associar algo de negativo, pois se o fizermos, é quase um sacrilégio e cai-nos em cima este mundo e outro.





O certo é que O Fado Falado tornou-se muito popular, e ainda hoje é interpretado por vários artistas, mas a verdade também é que se trata de um texto menor e se a ele acrescentarmos o dramatismo que a representação de Villaret lhe deu, roça verdadeiramente o absurdo e o ridículo.

Hermínia Silva teve claramente essa percepção e criou uma paródia a esse texto, criando o Fado Mal Falado, bem mais interessante e inteligente até e que o original…

Fê-lo sempre contudo com o devido respeito ao mito Villaret, pois apesar do sucesso que obteve esta sua caricatura, após a morte do actor interrompeu a apresentação desse número, durante pelo menos 4 anos, em consideração à sua memória, retomando-o depois sempre com grande sucesso popular.

Villaret, entretanto, divertira-se sempre imenso ao ver Hermínia a parodiá-lo!










Este era o assunto antigo, que me veio à memória, assim que li com alguma atenção o pobre programa eleitoral do PSD, perdoe-se a expressão, mas “xunga e mal falado” foi a imagem que se colou à sua leitura.

Ao abordar a temática agrícola e o PRODER lê-se o seguinte:

Impõe-se aqui colocar o Ministério da Agricultura efectivamente
ao serviço dos agricultores, numa perspectiva de fornecedor/
cliente, alterando o seu funcionamento e simplificando os
processos, e tornando-o competitivo na captação e gestão dos
fundos comunitários
.

Um Ministério a funcionar para uma classe na perspectiva “fornecedor/cliente”?

Claro que certamente é isto que os Partidos têm a tentação de fazer, mas dizê-lo assim tão claramente é estranho.

Com este texto, os seus autores, autorizam que se pense que o PSD é permeavel a que o Estado se deva moldar ao agrado de clientelas.

Vejamos o caso concreto, actualmente o PRODER apoia múltiplos projectos de acordo com uma fileira de prioridades, de que é exemplo o olival e a produção de azeite, com o objectivo de aumentar a produção de um produto de que já fomos auto-suficentes.

A perspectiva de um Estado é definir políticas para a Agricultura, que podem até conflituar com alguns grupos de agricultores. Deve estabelecer regras, traçar rumos, validados em eleições livres e não satisfazer apetites clientelares!

Será que, neste caso, o assunto foi simplesmente, mal apresentado... “mal falado”!




Mas, este foi apenas um sinal deste Programa eleitoral, que se torna preocupante, porque noutros pontos traduz algumas políticas que vão exactamente no sentido dos temores que referi:

-Suspender a aplicação da avaliação dos professores, querendo vir a aplicar um outro modelo, mas que não se sabe ainda qual será!

Possivelmente até será o modelo que já se encontra em preparação no actual ministério. Afinal os técnicos que fazem estas coisas vão transitando de governo em governo e acabam por ser eles quem verdadeiramente manda!

Bom, mas também aqui, apesar de vaga e vazia, a proposta do PSD está feita especificamente para captar o apoio de um certo grupo de clientes…. Mas será que eles vão nisso? Não custa tentar!

- Acabar com o pagamento especial por conta das Empresas, no IRC.

Eu que sou trabalhador por conta de outrem também faço o meu pagamento especial por conta todos os meses, quando me abatem o IRS, para depois fazerem o acerto no final do ano… O pagamento especial por conta para as Empresas segue ao fim e ao cabo a mesma filosofia fiscal que nos abrange a todos!

Com esta proposta o PSD preocupa-se pois com as empresas, naquilo que normalmente dói mais a todos, empresas e cidadãos comuns, a sua tesouraria e o seu rendimento….

Neste caso, a preferência vai para as empresas e sempre serão mais uns clientes que se poderão captar!

Mas neste Programa as empresas têm mais boas surpresas!

Ao propor-se baixar a TSU que está a cargo dos empresários em dois pontos percentuais, o PSD diz que é para tornar as empresas mais competitivas, baixando o custo do factor trabalho…

Lembram-se quando o actual Governo baixou o IVA num ponto percentual que reflexos essa baixa teve nos preços ao consumidor? Que efeitos teve na competitividade? Nenhuns, como sabem!

Bom, imaginam portanto qual será o destino desta proposta de poupança para as Empresas!

Bom, mas mais importante que isso, como ficariam depois desta medida, as receitas da Segurança Social… Segundo o PSD o Estado compensará os respectivos fundos…. Pois…. Mas a prática do PSD, até no tempo em que Manuela Ferreira Leite esteve no Governo, foi a de nunca respeitar as transferências orçamentadas para a Segurança Social.

Será que iria agora transferir verbas ainda maiores, numa altura em que simultaneamente refere que o Estado está sem recursos????

Bom, mas no fundo, no fundo o que é que isso interessa! Se os clientes, que por coincidência são igualmente os empresários ficarem satisfeitos , isso é que é importante!

Claro que este alívio da TSU que o PSD promete às empresas, leia-se aos bolsos dos donos das empresas, terá consequências para outros, mas esses outros talvez não sejam os clientes preferenciais do PSD e talvez, bem conversadinhos até se consigam convencer que a medida também é boa para eles.

Diz o PSD que ajudará a baixar o desmprego…. E nem se riem nem nada…. São uns artistas!

Ora o facto é que para esses clientes de segunda, medidas destas levam a que daqui a uns anos se volte a dizer que a Segurança Social está falida, que as pensões têm que baixar e a idade de reforma tem que subir.

Levam também a que se diga que a solução é o recurso individual a esquemas privados que as seguradoras decerto terão para oferecer.

Seguradoras, que são aliás outro grupo de clientes muito respeitaveis que importa também tornar contentes!

Penso que todo o pais conhece a origem e os pressupostos ideológicos do PSD. Contudo, quando em tempos ainda afirmava social-democrata, havia uma maior elegância, das suas propostas…

Estas de agora só me conseguem trazer à ideia a frase final do Fado Mal Falado: Xunga e mal falado!

E termino, indo para longe, sem saber ainda em quem votar no final de Setembro (apesar de saber já em quem não votar

Termino com aquilo que me parece que verdadeiramente vale a pena, que é genuíno e inteligente, com a Hermínia e o Fado Mal Falado:

segunda-feira, agosto 24, 2009

A propósito de uma notícia

Ainda a Campanha Eleitoral não começou e já estou a ficar farto de tanta hipocrisia e mediocridade!
Sinceramente já cansa ouvir Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas, falarem de Pequenas e Médias Empresas.
Não porque as PMEs não sejam importantes para o nosso país, muito pelo contrário. Mas porque os pressupostos ideológicos que defendem, de redução do Estado a um papel minimalista e de liberalização completa da economia, numa sociedade onde se movem livremente empresas gigantescas, são já em teoria, os piores inimigos de qualquer PME.
Por outro lado, também fiquei "engalinhado" com a justificação dada pelo PS para ter tornado mais liberal a legislação do trabalho, alegando que isso contribuiria, para tornar a nossa economia mais competitiva.... Uma lógica dessas é não só incompatível com o ideário socialista, mas também se for levada ao seu limite acaba até por justificar o trabalho escravo.
Para piorar tudo isto os partidos à Esquerda limitam-se a repetir slogans, ainda que sob novas formas, e parecem mesmo apreciar "o quanto pior melhor", na convicção de que o voto de protesto lhes dará mais lugares no Parlamento e nas Câmaras.
O cansaço, com a demagogia e a óbvia falta de honestidade política, que parece contagiar toda a classe política, têm-me feito hesitar sobre que tipo de intervenção posso e devo ter aqui neste meu espaço e até sobre que voto hei-de ter nas legislativas!
No entanto uma notícia que ouvi hoje na TSF levou-me, de imediato a querer desabafar um pouco sobre alguns assuntos!
Dessa notícia, de hoje, da TSF (jornalista Cláudia Arsénio) com o título: Empresários que viajam em comitivas oficiais não desenvolvem negócios no mercado visitado . Transcrevo alguns trechos:

"Os empresários portugueses, que têm viajado com o Presidente da República e com o Primeiro-Ministro não aproveitam para desenvolver negócios com empresários locais, mas com outros empresários da comitiva, revela um estudo universitário divulgado, na edição desta segunda-feira, pelo Jornal de Notícias (JN).

Em vez de estabelecer contactos com empresários dos países que estão a visitar, a maioria dos empresários portugueses prefere manter as redes de negócio dentro da própria visita oficial.

Ou seja, os empresários aproveitam as visitas organizadas pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro para desenvolver negócios com outros empresários da comitiva.

Esta é uma das conclusões de um estudo realizado por André Caiado, da Faculdade de Economia do Porto, que analisou 12 visitas oficiais, entre 2005 e 2008.
.................................................

O estudo refere ainda que os empresários não se preparam tanto como deviam e podiam, por exemplo, tentar estabelecer contactos com antecedência nos países que vão visitar.
Aliás, segundo este estudo, os aspectos menos valorizados das visitas oficiais foram a necessidade de adquirir informação sobre concorrentes, celebrar contratos e adaptar ou planear a criação de produtos ou serviços para o mercado visitado. "


Esta situação, que certamente, não deixará surpreendido Cavaco Silva, não é senão um dos muitos sinais de atraso e falta de lucidez de uma boa parte do nosso empresariado.

Já lá vão longos anos, quando andei a estudar Gestão de Empresas, que nos era ensinado que a má preparação dos nossos empresários era uma das principais causas do nosso atraso.

Empresas mal geridas, empresários mais preocupados em ter bons carros e boas casas do que em investir nas suas empresas, produzem um tecido empresarial fraco e uma economia débil.

Estes factores de há muito que eram conhecidos e há muito que urgia uma mudança!

E diga-se o que se disser dos políticos, eles, umas vezes melhor, outras pior, têm cumprido a sua missão.

Conseguiram fazer-nos entrar na União Europeia, e com essa entrada, foram chovendo fundos comunitários, para projectos vários, na industria, na agricultura, nas pescas e no comércio, cujo âmbito temporal foi sucessivamente alargado pelos vários governos.

Da Europa veio dinheiro que financiou acções de formação para tudo e mais alguma coisa.

Muitas vezes essas acções foram conduzidas por associações empresariais, de acordo com os interesses e necessidades que definiram, e afinal acabamos por verificar que pouco efeito tiveram na atitude dos empresários.

Empresários que, entretanto, passaram a ser chamados de “empreendedores”, mas que se comportam na prática como mero “patronato”, já que apontam sempre, em todas as circunstâncias, como a solução prioritária para os seus problemas “uma maior flexibilização das leis laborais”!

Apoios às PME, são, actualmente, o clamor de alguns dos nossos partidos políticos… Podem-se certamente criar mais alguns…. Mas na verdade esse clamor é apenas, e só, mero oportunismo político, em época de campanha.

Ao longo dos anos o Estado, através de todos os Governos, tem vindo a criar programas, incentivos, isenções e ajudas.

Visite-se, por exemplo, o site do IAPMEI, e também o conjunto de programas existentes no âmbito da União Europeia, a maior parte de aplicação entre 2007 e 2013 e ver-se-á, a quantidade de opções já existentes ao dispor dos empresários.

Mas para isso é preciso que eles queiram mudar algo e saibam o que devem mudar, saibam para onde querem ir!

E depois que se dêem ao incómodo de informar-se (as associações têm aí um papel importante), e que estejam dispostos assumir os custos dos riscos com a mudança.

Enfim, que queiram mexer-se, não ficando à espera que um qualquer subsídio lhes caía do céu!

Ser empresário implica, face ao mercado ser criativo (e não limitar a imaginação a contornar as leis fiscais), e implica, face à sua organização interna, ter bons instrumentos de gestão, nomeadamente uma boa contabilidade analítica e saber fazer bom uso dela…

Em tempos estive profissionalmente envolvido num projecto público, com fundos europeus, para a modernização de um determinado sector económico. Havia uma subsidiação fortíssima que chegava a atingir os 70% a fundo perdido e, mesmo assim, foi necessário andar a bater porta a porta para que alguns, poucos, aderissem!

Tal como em muitos outros aspectos da nossa sociedade, o nosso progresso depende de uma mudança de mentalidades, o que é algo que pode levar gerações.

Mas será que não há sucesso empresarial no nosso País?

Claro que há!

Para além dos habituais nomes sonantes de Belmiros e Amorins, veja-se por exemplo o caso do sector vinicola, onde por todo o país vão aparecendo jovens bem preparados, muito deles pertencentes a famílias com peso tradicional no sector, criando produtos de qualidade e já com reconhecimento internacional!

E ao ver esse sucesso nesse sector específico, atente-se nas razões pelas quais noutras actividades agricolas, explorações há longo tempo decadentes em mãos nacionais, se tornam rentáveis com a chegada de investidores estrangeiros.

É, talvez aqui, na agricultura, que se tornam mais visiveis as diferenças sociais e de sucesso, ou insucesso, consoante a respectiva origem familiar! Consoante houve ou não a capacidade das novas gerações, adquirirem conhecimentos e de as antigas gerações conseguirem dimensões nas propriedades que lhes permitam adequadas economias de escala.

Por isso mesmo a agricultura é um caso à parte, porque para além da necessária modernização, das questões técnicas e de imprevisibilidade natural, há ainda a considerar as questões fundiárias, de actividade cooperativa e de emparcelamento.

Mas também há, sucessos na indústria e serão esses os casos que devem ser divulgados!Não como trunfo de campanha eleitoral de quem governa, pois o que os industriais bem sucedidos obtiveram, conseguiram-no com a sua persistência e a sua luta, …. Mas sim como um exemplo para os restantes.

Entretanto, o que vamos sabendo de alguns gestores bancários, ultimamente muito falados, dá-nos a perceber que a qualidade técnica e ética do nosso empresariado é muito mais problemática do que muitos de nós julgávamos e que a fraqueza do nosso "tecido empresarial" não se encontra apenas restrita ao mundo dos pequenos negócios.

Este estudo hoje vindo a lume no JN e na TSF, só nos faz confirmar mais profundamente essa percepção.

Esteja quem estiver no Governo, a Economia do País só virá a ser competitiva, após um esforço monumental na Educação, que produza empresários, mais cultos, mais preparados, com horizontes mais alargados. E disso, só após, algumas gerações Portugal colherá os frutos!

Fazer campanhas eleitorais ao pé de produtores de batata com queixas de falta escoamento, porque as cadeias de distribuição optam por batatas estrangeiras, é um péssimo serviço prestado ao país e à agricultura.

No século XXI, produtores de batatas, ou de sapatos, ou de mobílias, são empresários, e sejam pequenos ou grandes, têm que saber ir à procura dos compradores, têm que possuir estratégias de marketing, têm que ser mais do que simples, lavradores, sapateiros ou carpinteiros.

E se não o souberem ser, por falta de preparação ou de meios, aí torna-se decisivo o papel das suas associações, para os encaminhar, para lhes prestar assessoria, para lhes dar a formação adequada… Fazer desfiles de tractores não resolve o problema! Nem o deles nem o da nossa economia em geral.

Referir-se ao sector agrícola da economia, como “Lavoura”, como faz Paulo Portas, não é um mero acto de charme linguístico, é uma designação que comporta um sentido sociológico muito preciso. Um sentido que nos remete para o passado, para “os bons velhos tempos” em que não havia um mercado aberto e liberal que o próprio Portas ideologicamente defende.

É, portanto, um acto de profunda demagogia e desonestidade intelectual, nas visitas aos “lavradores” tentar aliciar votos dos que mais sofrem com a inadaptação aos novos tempos, para depois ser arauto do liberalismo e da diminuição do papel do Estado, o que coloca sempre os mais fracos, os menos preparados à mercê da lei da selva!

Por tudo isto esta campanha está a revelar-se profundamente desoladora e triste...

Por tudo isto e muito mais, sobre o qual poderia estar aqui a perorar durante horas, estou indeciso ainda sobre o meu voto.

No entanto, quer por razões ideológicas, quer pelo seu péssimo desempenho governamental no passado excluo, desde já Paulo Portas e Manuela Ferreira Leite a qual aliás, num espaço de 20 minutos foi capaz de dizer, na passada semana, que não conhecia o verdadeiro estado das finanças públicas, pois achava que os dados oficiais não transmitiam a gravidade da situação e que contudo podia garantir que não aumentava os impostos!

Acho que a hipocrisia, o descaramento e a inconsciência não são próprios de quem se propõe governar um País.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Estragos






A foto acima retirei-a do magnifico blog do Arquitecto Luis Marques da Silva, passando a citar parte o texto que a acompanha:

Apesar de estar em perfeito estado de conservação, este edifício foi demolido, como vai acontecendo por essa Lisboa fora, descaracterizando a sua face, roubando-lhe as suas memórias.”

Ao ver isto pergunto-me se Lisboa ainda terá remédio?

A Lei ao fixar a existência de uma lista de imóveis classificados com interesse patrimonial, anexa aos PDM, o que acaba por conseguir é que todos os restantes edifícios, não abrangidos por qualquer protecção, e que foram construídos na mesma época, fiquem sujeitos à demolição.

Por isso, Lisboa a pouco e pouco vai sendo descaracterizada, pois no meu entender, para além dos exemplares de arquitectura mais relevantes, deveria ser igualmente preservado o carácter de época da totalidade do conjunto edificado


Como tal não é feito, ficamos com situações como esta na Avenida da República :




Em que um belo edifício, prémio Valmor, devido à demolição dos laterais que não tinham qualquer “protecção legal, acabou por ficar entalado entre duas peças arquitectónicas que nada têm que ver com ele.

A zona perdeu toda a sua ambiência de início de século XX e agora é este belo edifício que acaba por ficar deslocado no meio dos novos prédios.

Não entendo, porque é que a Lei, nas cidades portuguesas, à semelhança do que acontece na maioria dos países civilizados, não obriga a que em certas zonas haja modelos específicos para construção, por forma a manter a harmonia das respectivas traças e a memória histórica da época em que determinada zona foi edificada.

Era esta a ambiência da Avenida da República que se perdeu completamente:




Acho muito bem que os arquitectos de hoje deixem as suas marcas e exemplos criativos do seu talento!
Temos, em Lisboa zonas óptimas para esse efeito: A Expo, a Alta de Lisboa, etc.... Contudo, relativamente à cidade histórica, deveriam existir regras muito claras para a manutenção de estilos arquitectónicos, preservando assim as várias ambiências de época, em que, bairro a bairro, a cidade se foi edificando.

É que na verdade, se o brilhantismo profissional do arquitecto, o leva legitimamente a querer deixar algo de marcante para o futuro, deveria haver, da parte das autarquias e dos restantes poderes públicos uma opção perfeitamente clara, aquando dos actos eleitorais, para que se soubesse de antemão se essas marcas de “modernidade” serão autorizadas apenas nas zonas novas das cidades ou se, pelo contrário, as vão permitir nas zonas históricas onde há também obras marcantes do passado, devidamente enquadradas na sua época histórica.

A ideia que me dá relativamente aos nossos Presidentes de Câmara é que não gostam nem são sensiveis à beleza e ao passado das cidades que estão a gerir e que as querem modificar de qualquer maneira, "para mostrar obra feita", revelando assim que ignoram e desprezam a sua história.
Parece mesmo que desconhecem o que é a verdadeira qualidade de vida e o interesse turístico que a sua preservação representa.

O exemplo do que acontece com a intervenção do arquitecto Gonçalo Byrne em Coimbra (Museu Machado de Castro) em plena zona das Universidades é para mim um exemplo muito claro do que poderia ser uma mais valia numa outra zona da cidade, mas que ali é, no mínimo, algo de muito controverso e que, sem dúvida, abre as portas a futuras alterações de toda aquela zona.



Vista do Museu Machado de Castro, a partir da varanda da Universidade, após intervenção de "requalificação"


Infelizmente, por todo o país, paisagens e referências históricas acabam por ficar espezinhadas pelo betão, quase sempre, de gosto muito duvidoso!

Veja-se por exemplo o caso de Leiria:





Ou ainda o caso tenebroso de Vila Nova de Gaia, onde se está a construir, na encosta para o Douro, alguns edifícios que bem poderiam estar na Porcalhota ou em qualquer outro Bairro de subúrbio.
Com estas construções a visão belissima do lado de Gaia, a partir da Ribeira do Porto, arrisca-se a ficar completamente adulterada, no que tinha de mais belo e tipico.







Quase a terminar volto a citar o texto do Arquitecto Luís Marques da Silva:

"Continua a ser permitido transformar terrenos em pepitas de ouro.

Continua a ser permitido pagar por um porco, o valor de um presunto.

Até quando a inexistência de uma verdadeira politíca de solos e da figura do "crime urbanístico", na legislação, impedindo a especulação desenfreada, o desordenamento do território e a possibilidade da ocorrência destas situações?

Apesar de tudo, baixar os braços? Nunca!!!