Depois de há uns dias atrás ter trazido ao blog algumas canções da Madalena Iglésias, resolvi hoje falar um pouco de duas cançonetistas que deixaram há muito de se ouvir…
E lembrei-me delas porquê? Porque ontem a RTP1 estreou ontem uma rubrica no final do Telejornal, em que abordou a problemática do cancro da mama, tendo entrevistado algumas figuras públicas que tiveram este problema.
Entrevistaram Simone de Oliveira, tendo posto uma canção sua, como música de fundo. Chamava-se essa canção Fúria de Viver.
Entrevistaram também Tonicha e fizeram o mesmo, colocaram como fundo musical uma canção criada por Tonicha, chamada Fui ter com a Madrugada, contudo a voz não era a de Tonicha… Essa voz era de Mirene Cardinalli.
Tratava-se de uma canção que valeu a Tonicha o 2º lugar no Festival da Canção de 1968, a escassos 2 pontos de Verão de Carlos Mendes.
Penso que terá sido uma gaffe da edição do programa, repetindo o erro que aliás já vi há algum tempo em alguns blogs.
Bom, o certo é que com isto a voz de Mirene voltou felizmente a ouvir-se na televisão portuguesa.
E ao lembrar-me de Mirene, recordei igualmente Marina Neves.
Ambas morreram muito jovens e ambas, curiosamente, tinham um estilo e um timbre muito semelhante, que na altura, alguns críticos consideravam pouco original, dado que ambas se assemelhavam, talvez em demasia, a Simone de Oliveira, que na época era a voz feminina mais conceituada
Mirene Cardinalli (da família dos proprietários do Circo Cardinalli) nunca negou as semelhanças com a criadora da Desfolhada, mas recordava ter começado a cantar muito jovem, ainda antes de Simone, e de ter tido sempre o mesmo estilo.
Fez parte da sua carreira em Angola, para onde havia partido no início dos anos 60 e onde teve enorme sucesso. Quando regressou, em 1967, conseguiu rapidamente impor-se na “Metrópole”, sendo as suas canções: Mal de Amor, Julgamento, Livro Sem Ter Fim, Adeus ao Verão e Canção do Novo Sol, repetidas diariamente nas rádios.
Esta notoriedade permitiu-lhe participar no ano seguinte, a par de Tonicha e Simone, no Festival RTP com a canção Vento Não Vou Contigo.
Infelizmente a sua carreira não durou muito mais, no dia 19 de Dezembro de 1969, a caminho de Évora, um acidente trágico tirou a vida a Mirene Cardinalli e a outros colegas que a acompanhavam (salvou-se apenas, apesar de ter ficado muito ferida, Maria de Lourdes Resende). Mirene tinha 27 anos.
A carreira de Marina Neves ainda foi mais curta.
Tendo-se iniciado no Centro de Preparação dos Artistas da Rádio, no inicio dos anos 60, tornou-se particularmente notada, quando a editora Alvorada, resolveu em 1964 editar as canções do Festival desse ano, por vozes diferentes das dos criadores.
Marina Neves foi escolhida para cantar Olhos nos Olhos, e fê-lo numa colagem tão precisa à versão original de Simone de Oliveira, que foi com um misto de surpresa e de crítica que foi recebida a sua interpretação. A polémica daí resultante foi quanto bastou para que se tornasse de imediato uma cantora requisitada.
Marina Neves, jovem muito bonita e bastante simpática, tornou-se figura indispensável dos Serões para Trabalhadores , tendo feito sucesso nesses e em todos os outros espectáculos em que participou.
A sua voz e expressividade em palco tinha potencialidades que infelizmente não pode desenvolver.
Uma doença oncológica, poucos meses depois, afastá-la-ía dos palcos e tirar-lhe-ia a vida.
As canções que deixou gravadas testemunham a sua qualidade vocal, apesar de, no entanto, estarem muito aquém do que ela merecia. A sua morte, prematura, com pouco mais de 20 anos provocou na altura, uma verdadeira comoção nacional.
Tal como sempre acontece, tão forte foi a comoção, quão rápido foi o esquecimento.
Mas tudo isto veio a propósito de uma canção de Tonicha e de uma gaffe (espero não estar a ser injusto) da RTP.
Terminemos pois com esta canção quer originou estas minhas recordações. É do Festival de 1968 e nela teremos Tonicha vestida com um fato curiosamente parecido com o que Cliff Richards usaria poucas semanas depois no Festival da Eurovisão:
Há 14 anos