terça-feira, abril 29, 2008

1º de Maio



Chegámos às portas do 1º de Maio!

E, para comemorar a ocasião, o Governo apresentou recentemente um conjunto de medidas que, no seu global, reduzem alguns dos direitos dos trabalhadores, consignados na actual legislação.

Aumenta a possibilidade de despedimentos, altera o conceito de horário de trabalho e cria formas de maior arrecadação de receitas sob o pretexto de controlar a precariedade.

E que razões invoca o Governo para justificar estas medidas?

Pois bem, diz que é para tornar as Empresas mais competitivas!

Mas, tudo o que o senhor Primeiro Ministro tem dito nos últimos dois anos, sobre uma aceleração do crescimento da economia, sobre o aumento do investimento e sobre a performance das nossas exportações não revelará então que, as empresas para crescerem, produzirem e obterem lucros, podem consegui-lo perfeitamente no actual quadro legislativo?

Eventualmente, se houvesse em Portugal trabalho escravo, as Empresa ficariam mais fortes e as estatísticas de investimento seriam mais positivas! Será que é esse o objectivo final?

É bom recordar que o 1º de Maio comemora a luta dos operários para obter o horário de 8 horas por dia. E que essa luta se deu em 1886!

Por ela morreram na forca e ficaram em prisão muitos sindicalistas de Chicago. O seu exemplo e a sua determinação serviram para que as condições de trabalho que hoje temos sejam mais humanas e justas. Deu-se aí uma vitória da civilização, com a aprovação pelo Congresso americano em 1890 do horário das 8 horas!

Ora, ao pôr em causa essa conquista, criando o chamado banco de horas, num ambiente empresarial que, mesmo com a actual Lei, não respeita, em muitos casos, o pagamento por trabalho suplementar, está-se, no fundo, a querer voltar a um modelo do século XIX.

É um retrocesso civilizacional que deveria envergonhar quem o propõe!

Para competir? Mas, competir com quem? Com a China e Índia? Com Marrocos e a Indonésia? É para modelos de sociedades que agora estão a fazer a sua Revolução Industrial que os actuais dirigentes deste mundo nos querem levar?

Ao celebrar acordos de comércio livre com estes países, os governantes ocidentais não o fizeram levianamente.

Sabiam muito bem que o faziam em favor da penetração das multinacionais em países que lhes tinham fechado as portas até aí.

Sabiam muito bem que a contrapartida seria a entrada no nosso mercado de bens produzidos com trabalho infantil e quase escravo.

Sabiam muito bem que estavam a criar um pretexto chamado globalização, para retirar aos trabalhadores ocidentais regalias e direitos, por forma a tornar "competitivas" as empresas.

Sabiam muito bem e não se importaram, porque assim as empresas dominantes ganhariam em todas as frentes.

Será de admirar que os políticos ocidentais, tenham tomado estas opções? Nem por isso? Afinal, bem vistas as coisas, não são os detentores do capital que criam e promovem os políticos que hoje governam o mundo?

O resultado final, é o da engorda permanente das grandes Empresas, tendo como contrapartida uma perda de direitos e de rendimentos dos trabalhadores de Cleveland a Manchester, de Liège à Amadora, de Milão a Hamburgo.

Mas será que, por se tratar de um fenómeno global, criado e aceite pelos políticos destes ultimos vinte anos, teremos nós, cidadãos, que ficar parados e conformados?

Não foi essa a atitude dos trabalhadores de Chicago em 1886!

Compete-nos a nós portanto, aqui e agora, honrar a sua herança e tentar mesmo aprofundá-la!

Quanto às grandes Empresas e aos especuladores financeiros, para os quais os governantes neo-liberais estão a trabalhar, desenganemo-nos, as suas investidas não irão ficar por aqui. A sua sede de poder e de dinheiro fá-los-á querer sempre mais e mais e mais.

Em Portugal, pelos vistos, tê-lo-ão alegremente e, ironia do destino, pelas mãos de algumas pessoas que se dizem socialistas!

O disfarce do lobo com a pele de cordeiro, foi sempre o mais astuto, hábil e eficaz método de embuste!