sábado, julho 10, 2010

De três a dez euros

Nunca fui um admirador da chamada stand up comedy, confesso contudo que ainda antes que ela aparecesse com esse nome, eu divertia-me imenso ao ver, no início dos anos 60, os programas de televisão de Victor Borge.





Borge, natural de Copenhaga, onde nasceu em 1909, começou a aprender piano aos 3 anos de idade, aos 9 dava o seu primeiro concerto a solo e aos 10 actuava já como solista com a Orquestra Filarmónica de Copenhaga.

Foi um menino prodígio e depois um músico prodigiosamente inovador ao trazer para a música clássica o humor, bastando-lhe para isso guiar-se em experiências vividas.

Músicos que a meio da actuação caíam do seu assento, vira-pautas que se enganavam ou deixavam cair as folhas, abas do piano que se fechavam sobre as mãos do pianista, pautas colocadas ao contrário….


Do universo da música, chamada séria, Borge trouxe-nos todo um mundo de episódios reais que enchiam de humor os seus espectáculos.





As gerações seguintes viram-no decerto nos Marretas e na Rua Sézamo.





Victor Borge foi um virtuoso do piano, que tinha a autoridade moral e artística para olhar para a música a partir dos seus aspectos mais hilariantes dizendo, com alguma razão, que se tivéssemos a televisão sintonizada num concerto de música clássica e lhe retirássemos o som, os músicos iriam parecer absolutamente ridículos.


Tendo começado a fazer humor com a música, ainda antes dos Irmãos Marx, era um seu fervoroso admirador, levando pedaços exemplares dos seus filmes para os seus espectáculos:





Borge, dinamarquês de ascendência judaica, estava na Suécia em 1940 quando os Nazis invadiram a Dinamarca e não hesitou, em partir de imediato em direcção aos Estados Unidos, via Finlândia, tomando o último navio neutral autorizado a zarpar daquele país báltico!


Não sabendo uma única palavra de inglês e apenas com 20 dólares no bolso, o seu enorme talento fez com que rapidamente ganhasse notoriedade, vindo a tornar-se em muito pouco tempo uma das figuras mais queridas do espectáculo americano e de todo o mundo!





Anos mais tarde, ao referir-se à sua fuga, costumava dizer que naquele tempo apenas duas pessoas perceberam exactamente o que se estava a passar no Continente Europeu. Churchill que salvara a Europa e ele que se salvara a si mesmo!


Borge que viria a morrer com aos 91 anos nos Estados Unidos, manteve sempre uma relação muito afectuosa com a sua Dinamarca.

Aquando do seu octogésimo aniversário foi homenageado em Copenhaga com um concerto que ficou memorável pela sua espectularidade e por em diversos momentos fazer a orquestra desmanchar-se a rir!

Mais ainda, por ter feito com que a consagrada flautista Michala Petri que o acompanhou nas Czardas de Monti, perdesse o fôlego necessário para tocar, por ser incapaz igualmente de conter o riso.





Bom, mas o que terá tudo isto que ver com o título que dei a este post?


Tem que ver com o facto de Borge ter neste momento seguidores à sua altura, e refiro-me naturalmente à dupla Igudesman & Joo composta por dois músicos igualmente virtuosos:

Quanto ao violinista, o russo Aleksey Igudesman é, para além de um executante extraordinário, um reconhecido compositor, com obras que já constam dos repertórios de algumas das mais prestigiadas orquestras, quer de câmara, quer sinfónicas.

Quanto ao pianista, Richard Hyung-ki Joo, britânico de origem coreana, foi vencedor de uma das edições do prestigiado Concurso de Piano Stravinsky, tendo sido solista nas principais salas mundiais, tocando com os mais conhecidos e consagrados maestros.

Ora esta dupla actua hoje e amanhã em Portugal, mais propriamente no Festival Internacional de Música de Espinho, que de ano para ano, se vem tornando cada vez mais interessante.


E os bilhetes respectivos custam entre os 3 e os 10 euros!


Não sei se já estão todos vendidos, mas quem puder assistir ao espectáculo deste duo, decerto que testemunhará um momento musical verdadeiramente notável.


Vejam, por exemplo, este excerto da sua actuação com Gidon Kremer e a sua famosíssima Kremerata Báltica, num momento musical absolutamente incomum.





O espectáculo que hoje e amanhã será apresentado em Espinho reproduz o concerto gravado já em DVD com o título “A Little Nightmare Music”.


Dessa produção que vem sendo apresentada ao vivo por todo o mundo, junto algo que muito provavelmente se verá em Espinho, onde eu tenho imensa pena de não poder estar! Trata-se de Mozart, apresentado aqui em Roterdão, da mesma forma que o duo o executou durante os célebres concertos Promenade de 2008.





De três a a dez euros….