segunda-feira, outubro 12, 2009

À Esquerda de Lisboa, passando por Oeiras!

Terminadas as eleições autárquicas, relativamente às quais manifestei a minha intenção de voto publicamente, surgem-me as seguintes reflexões:

Embora convidados para o fazer, a CDU e o BE recusaram participar, para Lisboa, num acordo pré-eleitoral à Esquerda. Esse acordo envolveria naturalmente o PS!

Para mim, face a uma coligação à Direita nada de mais lógico, legítimo e natural que a Esquerda se unisse e se preparasse com armas iguais para a disputa eleitoral em Lisboa.

Entretanto, como se sabe, houve desde há meses muito boa gente a pensar nestes termos e a agir por esta causa!

Centenas de personalidades da nossa vida política, cultural e artística uniram-se e fizeram todos os esforços para que uma coligação de Esquerda se viesse a concretizar.

CDU e Bloco mantiveram-se intransigentes na recusa de um compromisso, sabendo, mas parecendo não se importar, que com a sua posição, estavam a fortalecer as hipóteses de vitória do candidato da coligação de Direita!

Entretanto, revelando que à Esquerda ainda existe alguma lucidez o Movimento de Cidadãos por Lisboa liderado por Helena Roseta, a Associação Lisboa é Muita Gente de José Sá Fernandes e o Partido Socialista chegaram a um entendimento.




A luta eleitoral foi bastante disputada e o resultado já todos o conhecemos!

Após o acto eleitoral o que resta para os partidos à esquerda do PS?

A CDU reduziu a sua presença na Câmara a um único Vereador e o Bloco perdeu a presença que lá detinha!

Em vez de participarem, podendo contribuir e influenciar politicamente as decisões camarárias, CDU e BE, seguiram uma estratégia autista, que os levou directamente à derrota.

Estratégia que, paradoxalmente, permite agora que o PS tenha uma maioria absoluta, que eles não têm o mínimo poder para controlar!

Perderam a CDU e o BE mas, com isso, a própria Câmara ficou menos plural e mais pobre!

A votação entretanto fez prova de que, felizmente, os eleitores não seguem cegamente as opções dos dirigentes partidários. E se os dirigentes da Esquerda que temos não foram capazes de entender o óbvio, os eleitores anónimos acabaram por lhes dizer que são os partidos que têm servir o interesse dos eleitores e não o contrário.

Quando o PS errou, ao desvalorizar a a canditura já existente de Manuel Alegre, escolhendo Mário Soares para candidato presidencial, teve a surpresa de ver a maioria dos seus eleitores fugirem para Manuel Alegre!

Será que a CDU e o Bloco pensavam estar imunes a esse tipo de situações?

É bom que tenham aprendido a lição! É bom que percebam que os cidadãos hoje em dia já não precisam de vanguardas iluminadas que decidam por eles.

É bom que reflictam que em Democracia, na casa comum da Esquerda não temos todos que pensar o mesmo sobre as mesmas coisas mas que, quando estão em causa princípios, o que une é sempre mais forte do que o que divide.

Não agir assim é ser sectário e “pequenino” e prestar um mau serviço à Democracia e ao País!


Por último, gostaria de referir algo que considero também ser um sintoma doentio da Democracia portuguesa!

Falo da reeleição de Isaltino de Morais em Oeiras!

É necessário que todos os dirigentes políticos pensem, tanto à Esquerda como à Direita, no fenómeno Isaltino.
Marques Mendes e João Cravinho já nos apontaram caminhos para que a Política em Portugal se torne algo de sério e respeitável aos olhos dos portugueses!

Ontem à noite, numa das televisões, foi repetida uma frase que eu já ouvira outras vezes: “Ele rouba, mas todos fazem o mesmo e muitos até roubam mais que ele! A diferença é a de que este foi apanhado!"

Uma votação como a que teve Isaltino de Morais, num concelho como Oeiras, faz-nos acreditar que pensamentos como este já se entranharam e vulgarizaram no caldo de cultura em que este País se afunda!

Uma frase destas surgir em mesas de café, entre amigos, tem a importância de um fait-divers pateta, contudo, quando a dimensão da coisa se torna tão forte que as próprias televisões já reproduzem estes comentários dentro da análise política dos resultados eleitorais, faz-nos perceber que chegámos já ao nível do que de pior existe na América do Sul.

É bom portanto que quem tem poder neste País tome decisões sérias nesta matéria,

Se não, não nos admiremos que em próximas eleições, à semelhança do que era dito de um eterno vencedor de eleições em São Paulo, apareçam, sem escandalizar ninguém, slogans de candidatos dizendo: “Rouba, mas também faz”