domingo, novembro 08, 2009

KRISTALLNACHT

Amanhã, 9 de Novembro passará mais um aniversário da “ Noite de Cristal”.

Passados 71 anos, cada vez faz mais sentido recordar esse acontecimento trágico, que marcou o ponto de viragem entre uma política de terrível discriminação para uma política de genocídio deliberado.

No dia 7 de Novembro de 1938 o jovem judeu Herschel Grynspan, de 17 anos, desesperado devido à deportação de seus pais, assassina em Paris o responsável por essa deportação, o diplomata alemão Ernst von Rath






Esse foi o pretexto ideal para que na noite do dia 9 de Novembro de 1938, Hitler ordenasse a Goebbels um violento ataque à comunidade judaica por toda a Alemanha, Austria e sul da Checoslováquia.

Esse ataque deveria parecer um acto espontâneo de revolta do povo alemão contra os Judeus e por isso foi levado a cabo por milhares de SS e membros do partido nazi, trajando à civil.

Destruíram-se centenas Sinagogas, milhares de estabelecimentos judaicos, foram mortos centenas de judeus, feridos vários milhares e presos cerca de 30000.



Se é verdade que a História assinala aqui o início do Holocausto, o certo é que este foi apenas mais um episódio, agora de contornos extremamente violentos, de uma política sistemática contra o povo Judeu levada a cabo desde a chegada ao poder dos nazis em 1932.

A designação de Noite de Cristal (Kristallnacht) prende-se com o facto de o som mais audível naquela noite e o aspecto mais visível após os actos ter sido o dos vidros quebrados de milhares de vitrines de comerciantes judeus.





De inicio, o regime de Hitler começou por interditar determinadas profissões a judeus, médicos e advogados, por exemplo!

Expulsou-os de todos os serviços públicos, ordenando um boicote a todas as lojas propriedade de judeus onde mandou inscrever em letras garrafais a palavra JUDE (judeu).





Seguidamente surgem as Leis de Nuremberga que retiram a cidadania alemã aos judeus, tornando-os párias e sem quaisquer direitos no seu próprio país, proíbe o relacionamento sexual entre judeus e não judeus, que um não judeu trabalhasse para um judeu e ainda que judeus e não judeus trabalhassem ou estudassem juntos.

A todos os homens judeus, cujo primeiro nome não tivesse origem judaica mandou inscrever no seu registo como segundo nome, Israel, e às mulheres. Sara!

Todos os judeus passaram a ser obrigados a usar a estrela amarela de David cozida nas suas roupas.




Claro que todo o mundo sabia o que se passava, claro que todo o mundo se sentia horrorizado, claro que todo o mundo fingia não perceber a gravidade do problema e olhava para o lado!

E olharam para o lado de forma oficial mesmo, o que viria a dar luz verde, que Hitler esperava para iniciar com a Noite de Cristal o seu programa de Solução Final.
Na verdade, no inicio de 1938, para aliviar as suas consciências alguns países ocidentais organizaram uma Conferência Internacional em Evian-les-bains, na fronteira de França com a Suiça.

Nessa Conferência, que durou 9 dias, com o objectivo de abordar a questão da perseguição que milhões de seres humanos sofriam, por parte do regime nazi, saiu apenas um gesto de simpatia e apenas um dos 32 países presentes, a pequena República Dominicana se dispôs a acolher 100.000 refugiados judeus.






Os Estados Unidos que tiveram a iniciativa da conferência, enviaram como seu representante um amigo do presidente Roosevelt sem quaisquer poderes oficiais, que se limitou a lamentar os factos, sem se comprometer com a aceitação de mais judeus para além de algumas dezenas de milhar que já tinham rumado até aquele país desde 1933.

Aliás quando 2 senadores democratas propuseram posteriormente uma Lei que permitiria o acolhimento de 20.000 crianças judaicas orfãs, essa Lei foi rejeitada pelo Senado, alegando-se que 20.000 crianças se viriam a tornar a médio prazo em 20.000 adultos que retirariam empregos a americanos.

Em Inglaterra sucedeu exactamente o mesmo, o Governo sob pretexto patético de evitar imaginárias tensões dentro da própria comunidade judaica existente naquele país proibiu a entrada de mais refugiados judeus.

A este propósito Chaim Weizmann, que viria a ser o primeiro Presidente do Estado de Israel, comentou tristemente ao jornal londrino The Guardian: «O mundo parece estar dividido em duas partes: Uma onde os judeus no podem viver e outra onde não podem entrar»





Face aos resultados da Conferência, o Governo de Hitler ironizou declarando-se espantado por os países estrangeiros criticarem a Alemanha pela forma como tratavam os judeus, quando porém, nenhum deles se dispunha efectivamente a abrir suas portas quando “a oportunidade surgia”.

Sendo óbvia a indiferença internacional, poucos meses depois surgiu a Hitler a oportunidade de pôr em marcha o seu projecto e a Noite de Cristal aconteceu!

Numa altura em que há vozes que se atrevem a negar o Holocausto, em que poucos restam das gerações que testemunharam os acontecimentos, em que estes temas passaram a ser para os mais jovens apenas mais um capítulo no seu compêndio de História, é necessário relembrar que o Mal Absoluto existiu e avisar com estas memórias, com toda a insistência, que ele poderá repetir-se!

Deixo, por isso, para terminar, um interessante filme de quase 19 minutos sobre estes acontecimentos realizado o ano passado pela televisão brasileira a propósito dos 70 anos da KRISTALLNACHT. Para que a memória perdure!