quinta-feira, junho 17, 2010

Tertúlias

Ontem ao jantar, um dos temas de conversa foi o profissionalismo na vida artística!

Ora hoje, após regressar às minhas vivências blogosféricas, deparo com um magnifico trabalho, onde se fala precisamente do expoente máximo desse profissionalismo!

Desejo, assim, sugerir a todos os que habitualmente passam por este espaço que não deixem de visitar um dos meus blogs favoritos o TERTÚLIAS, pois encontrarão nele, como é habitual, um texto fantástico, neste caso, sobre uma verdadeira lenda do canto lírico (e do profissionalismo levado aos limites do impossível) que é Kathleen Ferrier



Há cerca de seis anos atrás a BBC, realizou um documentário homenagear essa verdadeira lenda do canto lírico e da vida britânica.

Um documentário interessante, recheado de depoimentos excelentes e baseado nas muitas cartas que a cantora foi escrevendo ao longo da sua vida!

Tinha contudo a infelicidade ter como voz que lia essas a cartas a da divertida e extraordinária comediante (Patricia Routledge), quando afinal a homenageada teve uma vida que foi tudo menos uma comédia!

Confesso-vos que esse facto fez com que eu me desconcentrasse completamente do documentário por não me conseguir distanciar do humor espantoso de “Keeping Up Appearances” que Routledge soube tão bem encarnar.



Vejo agora, no TERTÚLIAS, uma homenagem belíssima, comovente e condigna a Kathleen Ferrier.

E por isso, esqueça-se que existe esse documentário, pois neste trabalho encontra-se tudo, sobre esta extraordinária cantora, que viveu momentos de verdadeira excepção e que por isso mesmo é considerada como um verdadeiro símbolo do que de melhor existe no carácter britânico.

Como bem explicará o nosso anfitrião do TERTÚLIAS, Kathleen Ferrier foi um contralto extraordinário.




A sua voz, situada nesse registo normalmente pouco ductil, tinha contudo uma maleabilidade e um timbre que eram um verdadeiro vendaval de emoções.

As qualidades artísticas extraordinárias que pareciam elevar-se ainda mais, nos momentos mais difíceis da sua vida, tornaram-na uma referência incontornável, quer no mundo da Ópera, quer para o cidadão comum.

Os seus registos de canções tradicionais ficaram tão famosos, que um deles Blow the wind southerly se tornou “sagrado”, a ponto de ser ”intocável” para a maioria dos cantores britânicos.

Mas, como vos digo vão até ao TERTÚLIAS e irão ver um trabalho memorável.

Finalmente, deixo-vos como aperitivo, uma das árias que eu mais gosto pela Kathleen Ferrier . De Orfeu e Euridice de Gluck “ Che faro senza Euridice”, ”, que foi exactamente a sua última apresentação em público.



Levada directamente daquela récita para o Hospital, viveria apenas mais três semanas.

Poucos dias antes de falecer, uma da enfermeiras disse-lhe, meio a brincar, que ficaria muito feliz se ela cantasse esta ária e, para espanto de todos, ela cantou um pequeno trecho com a mesma força e sensibilidade que tinha normalmente em palco.

Era como se a sua voz esplendorosa estivesse separada do seu corpo, numa celebração à vida que a memória da sua arte eternamente representa.