sexta-feira, novembro 13, 2009

Mensagem: A promoção pública do graffiti




De acordo com a noticia agora posta a circular pela edição on-line do semanário SOL, a Empresa Pública Estradas de Portugal vai decorar com graffitis os muros do IC19. Transcrevo:

"Num comunicado, a EP explica que no próximo fim-de-semana, o Colectivo Cultural GRAUU, associação especialista na arte urbana dos graffiti, vai preparar alguns dos muros para oito dias mais tarde grafitar junto ao IC19.

«A EP pretende enquadrar o ambiente rodoviário e dignificar também este tipo de expressão artística, chamando artistas da zona para comporem um mural que transmita aos automobilistas [a ideia] que estas manifestações podem constituir um elemento de valorização da estrada», disse fonte da empresa.

A EP acredita que a segurança rodoviária será salvaguardada, uma vez que a não utilização em excesso de cores muito fortes e a não representação de motivos potencialmente ofensivos, foram considerados como principais requisitos na elaboração deste projecto.

Segundo a fonte da empresa, esta é uma solução ousada que a EP encontrou para combater os graffiti desconexos que aparecem nas barreiras acústicas e nos muros edificados dos seus empreendimentos, usando a mesma arte para servir melhor os automobilistas.

A empresa adiantou à Lusa que faz depender do sucesso desta iniciativa, novos projectos de graffitis para outras estradas da concessionária.

Esta é uma iniciativa conjunta da EP e da Câmara Municipal de Sintra e tem início no sábado às 10h, estendendo-se até ao fim-de-semana seguinte."



Pelos vistos a Empresa Pública Estradas de Portugal" e a "Câmara Municipal Sintra" consideram o Graffiti como ARTE, o que só por si é, no mínimo controverso em termos de conceito!

Mas não só! O que se propõem fazer acaba por transmitir um sinal muito concreto que se traduz numa mensagem implicita de aceitação pública do graffiti, com os naturais efeitos que ela implica.


É que se trata de uma mensagem, que chegará a quem pratica esta actividade, como se fosse uma luz verde das autoridades, um sinal que liberta os poucos constrangimentos sociais e morais que os autores destes actos ainda possuiriam.

Ou seja, a Empresa Pública Estradas de Portugal e a Câmara Municipal de Sintra (ao resolverem um problema da forma mais incompetente possivel, transformando em lícito o que é ilicito, sob a pretensa designação de "arte") estão a marimbar-se completamente para os efeitos que a mensagem do seu acto traduz, a qual constitui, pura e simplesmente, a validação moral de actos de vandalismo público.

Entendo que o combate à proliferação de gatafunhos e desenhos nas paredes e muros deste País deveria ser, para quem tem por missão a salvaguarda do património, uma questão de principio em prol de uma sociedade mais decente e mais civilizada.

Aliás face ao estado actual das nossas cidades, essa deveria ser uma preocupação essencial, de quem gere o seu destino!




Ora o que está noticiado para a decoração com graffitis do IC19, pela mensagem que implicitamente transmite, promove exactamente o contrário deste principio e por isso. eu manifesto aqui o meu protesto contra a imprudência deste acto concreto, contra os efeitos indirectos que ele promove, sendo certo que, ainda por cima, se trata de uma actividade que irá paga, é claro, com os meus impostos!

Pode ser que os jovens com talento na arte de manusear latas de spray tornem os muros do IC19 até mais belos do que a Capela Sistina. Não é isso que está em causa!

O que contesto é a atitude de entidades públicas que, para além de não terem um pensamento civico responsável, assentam a sua gestão no principio de que "se te dá muito trabalho vencê-los, então junta-te a eles!"

Pensei, durante muito tempo, que quem estava investido de autoridade pública tinha a responsabilidade social de manter os espaços limpos e de promover uma cultura cívica desincentivadora de actos de vandalismo da propriedade alheia, como aqueles que vimos abundantemente nos nossos edificios e muros.

Aos legisladores caberia criminilazar estes actos, inibir e combater a sua realização de todas as formas, procurando fomentar uma cultura cívica que considerasse o acto de escrever e desenhar em espaços públicos como um acto pernicioso à sociedade.

Às Câmaras e a todas as restantes entidades que gerem espaços públicos caberiam as acções concretas de limpeza e de controle, para evitar a degradação do ambiente urbano.

Ora, não só não têm qualquer tipo de actuação neste campo como, com este tipo de atitudes vêm fomentar exactamente o oposto. Em vez de desincentivarem, tornam licito algo que, a mim como cidadão que percorre este País, me desgosta e envergonha.

No Brasil, este tipo de actos dá penas de cadeia efectiva de 3 meses a um ano e uma pesada multa! Muitos outros países civilizados seguem este mesmo exemplo!

É obvio que só com a consciência de que se está perante actos socialmente reprováveis, que inclusivé têm pesadas consequências penais, é que se pode reduzir a dimensão destes fenómenos e se ir encaminhando a consiciência cívica dos mais jovens para o rumo certo.

Um grupo juvenil que tem "enfeitado" a chamada linha de Cascais, colocou no youtube o seguinte vídeo onde mostra a sua "arte":




Acaba por ser, no fundo, este tipo de intervenções que a atitude das Estradas de Portugal e da Câmara de Sintra irão indirectamente incentivar!

Não acredito que não tenham essa percepção! O que acredito é que não se importam, porque as implicações do que estão a fazer não os incomodam.

Infelizmente, vai-se ouvindo, cada vez mais dizer mal da nossa classe dirigente. Actos destes, o que é que nos pode levar a pensar sobre essas pessoas?

Que para uns o entendimento de serviço público não é relevante. Apenas a sua carreira política ou o seu lugar de gestor conta!

Não se detêm com estratégias sérias de futuro, remetem-se exclusivamente à resolução simplista das questões que vão surgindo, ainda que com isso possam até estar a alimentar a raiz dos próprios males que querem combater!

Que para outros a ocupação dos lugares que desempenham não deriva de competência ou de preparação cívica, pelo que nem sequer terão consciência dos erros que praticam e tão pouco virão a prestar contas por este tipo de acções!

Por isso, já que esses "responsáveis" consideram que esta arte valoriza tanto os espaços públicos, espero bem que tenham a justa retribuição desta sua forma de gerir.

Ou seja, espero que os praticantes da modalidade "artistica" graffiteira, descubram rapidamente onde residem os Senhores Administradores da Empresa Pública Estradas de Portugal e do Presidente e Vereação da Câmara de Sintra para os presentear com este tipo de "arte" nas paredes exteriores das suas habitações. Afinal estamos a chegar ao Natal e pelos vistos eles gostam e merecem!