segunda-feira, maio 12, 2008

Lorna, a mãe e a irmã

É conhecida como a “outra” filha de Judy Garland.



Ser filha de quem é e irmã de Liza Minnelli significa carregar consigo sombras demasiado pesadas para conseguir sair delas com facilidade e ganhar o Sol.

Essa dificuldade acresce quando quer no cinema, quer no teatro, quer na televisão nunca teve a sorte de obter grandes papéis, ou as produções em que entrou não terem tido a notoriedade desejada.

Falo, de Lorna Luft, de 56 anos, que depois de 40 anos de uma carreira de centenas de concertos, dezenas de filmes e séries e de inúmeras participações em musicais, lança agora o seu primeiro grande trabalho discográfico




Lorna, que reparte o seu tempo entre Londres e Los Angeles, tem colaborado nos últimos anos com o jovem cantor Rufus Wainwright, na apresentação do seu espectáculo Rufus does Judy live…, um show exclusivamente dedicado às canções de Judy Garland,



Ao mesmo tempo que ela própria, desde 2003 vem apresentando espectáculo de teor idêntico, chamado “Songs my mother taught me”

Depois de ter produzido documentários sobre a vida da mãe, de ter escrito um livro de memórias sobre as suas vivências com Judy e de ter produzido um filme baseado nesse livro, sai agora o seu primeiro CD a solo baseado no espectáculo que tem vindo a apresentar nos últimos anos.

Se Judy é um filão para tantos, por que não o poderia ser para a sua própria filha?



Trata-se de um CD corajoso, onde Lorna, com uma voz já a demonstrar alguns sinais de desgaste, parece apostar tudo!

Neste trabalho, onde até mesmo os arranjos orquestrais são idênticos aos que a mãe utilizou nas suas apresentações a comparação é inevitável. Aliás sê-la-ia sempre!

E esse é talvez, desde o começo da sua carreira, o maior problema de Lorna.

O que faltou pois a Lorna, para ter a notoriedade da mãe e da irmã? Não é capacidade vocal! Pois revelou-a logo aos 11 anos num programa televisivo especial de Natal, na presença da mãe e da irmã.



Nem domínio de palco, como se pode ver já adulta, no início dos anos 80, cantando I've Got Rhythm



O que lhe faltou e penso que falta, é algo que só muito poucos possuem. Uma magia e um magnetismo que está para além do muito bom.

Sinto pena que Lorna possa não ter tido os papéis apropriados e as canções adequadas para poder demonstrar essa capacidade. Ou, se calhar teve a oportunidade, mas faltou-lhe a centelha que transforma uma música ou uma representação num momento de magia como sua mãe Judy e a sua irmã Liza bem demonstraram!

Trago aqui, o que para mim, constituem dois exemplos de genialidade, quer de Judy, quer de Liza:

Judy, estava a preparar o seu show televisivo, quando foi assassinado o seu grande amigo pessoal, John Kennedy.

Emocionalmente abalada pediu à NBC para cancelar a transmissão, o que aquela emissora não aceitou, tendo exigido que se cumprisse o contrato, como previsto.

Judy propôs então incluir no programa algo que até aí não era habitual no seu repertório, um hino patriótico, do tempo da Guerra Civil, chamado The Battle Hymn of the Republic, em homenagem ao Presidente assassinado.

Os produtores contrariados, pois não lhes agradava a ideia de uma homenagem política com hino com mais de 100 anos, num espectáculo de variedades para a família, acabaram por concordar e a emotiva interpretação de Judy, poucos dias após o assassinato do seu amigo, ficou para a história da televisão.

Com tal impacto, diga-se aliás, que viria, passado um ano, ser repetida em Londres nos funerais de estado de Winston Churchill e utilizada, como homenagem musical no funeral da própria Judy Garland, 5 anos depois.



Quanto a Liza, repare-se nesta interpretação “especial” de New York, New York, ao vivo aquando do espectáculo comemorativo dos 100 anos da Estátua da Liberdade 1986), em que ao tradicional final da canção, Liza acrescenta um novo final, subindo ainda mais na escala musical.

A melhor gravação sonora desta “versão especial” pode ser encontrada (em cd e vinil) do espectáculo de 1987 no Carnegie Hall, havendo registo desta versão "especial" no espectáculo realizado em Paris com Aznavour em 1992 (cd e Dvd).



Ora, perante estes dois exemplos, o que pode fazer Lorna para que desta família venham ainda mais surpresas? É esse o seu problema!

Lorna, sendo eventualmente melhor do que a maioria das cantoras da sua geração, tem contra si uma expectativa permanentemente alta, esperando-se dela o milagre de superar o insuperável.

Um milagre que até hoje ainda não conseguiu e que, apesar de todo o seu esforço, todo o seu talento, dificilmente aos 56 anos irá conseguir!

Po fim, deixo aqui uma das faixas deste seu CD, que eu há muito esperava, mas que, sinceramente, agora, poderá não a conseguir fazer recuperar o tempo perdido.