quarta-feira, dezembro 23, 2009

FELIZ NATAL- ou como o Natal e a Música puderam fazer a Paz, ainda que só por breves momentos

No primeiro Natal, nas trincheiras das Ardenas, durante a Primeira Guerra Mundial, aconteceram alguns pequenos episódios de confraternização entre inimigos!

Esses casos, encontram-se descritos em diários de guerra de soldados dos dois lados da contenda. Um deles terá envolvido o cantor da Ópera de Berlin, Nikolaus Sprink, entretanto recrutado para o serviço militar no exército imperial alemão!

Na noite de Natal de 1914, nas trincheiras dos dois lados, os soldados procuravam mitigar o frio, as saudades da família e o medo, fazendo o seu próprio Natal, com canções tradicionais das suas terras.

A música tocada num lado ouvia-se do outro, e quando Nikolaus resolveu cantar para os seus camaradas de armas alemães, do outro lado surgiu o som dos militares escoceses que o acompanharam na melodia.

Nessa noite, à revelia dos seus comandantes e dos Quartéis Generais, os soldados de um lado e de outro saltaram as barricadas, vieram para a” terra de ninguém” e abraçaram-se!

Noventa anos depois, o cineasta francês Christian Carion, resolveu recordar esse episódio de esperança na Humanidade, fazendo um magnifico filme chamado apropriadamente Feliz Natal!



E é exactamente um Feliz e Santo Natal, o que eu aqui venho desejar a todas as amigas e amigos que passam por este pequeno espaço, recordando particularmente que na noite de Natal que se aproxima há muitos homens e mulheres que, longe de suas casas e das suas famílias, se encontram em teatros de Guerra e, para quem, a Noite Santa terá decerto um significado íntimo que nós, no conforto dos nossos lares, apenas poderemos tentar imaginar!

Deixo aqui imagens desse filme, referindo que as vozes dos actores foram magnificamente dobradas pelos cantores Rolando Villazon e Natalie Dessay!



Um Feliz Natal para todos!

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Standards - Modos de interpretar

Felizmente que houve a inteligência de se registar em vídeo e passar na televisão as master classes de Elisabeth Schwarzkopf onde, para além das técnicas de abordagem vocal a obras específicas, ela era muito exigente quanto à necessidade de uma boa dicção e de uma correcta interpretação do sentido das palavras.

Tive a oportunidade de ver a transmissão de todos esses vídeos há longos anos na RTP e era muito interessante ver o que cantores profissionais, já experimentados, suportavam para poder aproveitar os ensinamentos da mestra.



Ensinamentos que, se pensarmos bem, tanto servem para o canto lírico, como para o canto ligeiro, já que quem se presta a pisar um palco para cantar palavras tem que as pronunciar correctamente e lhes dar o devido sentido.

Curiosamente Marco Paulo, ao ser um dia entrevistado sobre o seu insucesso nos festivais RTP da canção, queixava-se de si mesmo, reconhecendo que uns versos em que dizia “Sou tão feliz” nunca poderiam ser cantados da forma dramática como ele o fez…

Neste caso convenhamos que a culpa nem era só dele, quer a música, quer a orquestração empurraram-no para esse erro, que ele na altura não percebeu existir.

Se em vez de “Sou tão feliz”, cantasse “Estou bem lixado” (desculpem a vulgaridade) acabaria por resultar bem melhor com aquela música e com aquele arranjo orquestral!



Infelizmente apesar de termos muitos cantores, não temos muitos intérpretes, e o canto precisa de ser feito com a inteligência de quem sabe o que diz, dizendo algo com interesse e com sentido!

Bom, mas hoje não vou falar de portugueses, vou falar de Barbra Streisand cuja preocupação pelo sentido dos textos ficou patente, logo desde o início da sua carreira.

Barbra começou muito jovem e com o pé esquerdo! Levada pela mãe a uma editora discográfica, aconselharam-na a dedicar-se a outra profissão pois, segundo eles, a jovem Barbra não tinha qualquer jeito para cantar.

No entanto este mau começo não a fez desistir do seu sonho e, ainda adolescente, concorreu a um concurso de canto para jovens amadores e tendo ficado em primeiro lugar, começou então a sua carreira com um contrato para actuações num bar gay de Manhattan.

Aí, a notícia da qualidade das suas interpretações depressa se espalhou tendo passado rapidamente para artista residente de um night-club famoso na época, o Bon Soir, onde a novata Streisand se arriscava em versões muito pessoais dos standards da música americana.

Apresento dois deles, nas suas versões originais e, depois, nas versões de Streisand.

Começo por “Cry me a river”, canção que foi escrita para Ella Fitzgerald, mas que acabou por ser criada por Julie London, que lhe deu aquela que é considerada por muitos como a primeira e definitiva versão deste tema!



Quem reparar bem na letra verificará que ela retrata uma zanga amorosa feita em discurso directo!


Now you say you're lonely
You cried the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

Now you say you're sorry
For being so untrue
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

You drove me,
Nearly drove me out of my head
While you never she'd a tear
Remember?

I remember all that you said
Told me love was too plebeian
Told me you were through with me

Now you say you love me
Well, just to prove you do
Cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you


Bom, temos aqui portanto uma mulher que se viu desprezada e até humilhada pelo namorado, uma mulher que sofreu muito por ele e que agora o vê voltar “esquecido” de tudo o que ele lhe dissera e fizera…

Face a este contexto, Barbra não adoptou a forma doce e suave de abordar a canção, que tornou famosa Julie London, cantou-a de um jeito sarcástico e até agressivo, a que quase só faltava a mão na anca e um tamanco a voar!

Consoante as audiências a sua interpretação era mais ou menos teatral! Para aqui escolhi a versão em que a actriz Barbra se revela completamente através da cantora Barbra. Trata-se de uma gravação ao vivo durante o concerto que deu no Central Park em 1967!



Ao contrário da versão de Julie London, esta não é decerto uma versão que se oiça calma e descontraidamente, como pano de fundo de uma conversa de amigos, em nossa casa! É preciso parar para a ouvir…

O mesmo acontece com a canção seguinte!

Ambas constantes do seu espectáculo no Bon Soir, foram gravadas no seu primeiro disco, que inicialmente teve uma edição modesta de apenas 500 exemplares, mas que depois teve que ser produzido em doses maciças tendo ido directamente para o primeiro lugar da lista de vendas, onde se manteve várias semanas!

É que na verdade, à semelhança do que acontecia com os clientes do Bon Soir, o disco surpreendia pela qualidade da interprete e muito particularmente pela sua versão de Happy Days Are Here Again, canção de 1929, que serviu para animar tropas, celebrar vitórias, de hino eleitoral de Roosevelt e depois do Partido Democrático.



So long sad times!,
Go 'long bad times!,
We are rid of you at last
Howdy, gay times!
Cloudy gray times,
You are now a thing
Of the past, cause:

Happy days are here again
The skies above are clear again
Let us sing a song of cheer again
Happy days are here again

Altogether shout it now!
There's no one who can doubt it now
So let's tell the world about it now
Happy days are here again

Your cares and troubles are gone;
There'll be no more from now on
Happy days are here again
The skies above are clear again
Let us sing a song of cheer again
Happy days are here again


Ora, como se vê, esta é uma canção com um texto de apelo político ao optimismo, que era cantada em comícios e que portanto teria que entrar bem no ouvido do público. Só que a verdade é que a música era quase infantil, o que levava a que, quando a multidão a cantava todos se riam pois sentiam-se tolinhos a entoá-la!

Streisand resolveu então alterar ritmicamente a canção! O texto que poderia ser o de um discurso, então teria que ter uma cadência mais adequada à seriedade e o empolgamento de quem pretendia transmitir uma mensagem!

Para isso, sem utilizar um tom declamatório, deu-lhe uma cadência mais lenta, que em vez de passar sentimentos de alegria, procurava passar sentimentos de euforia! Euforia provocada quer pelo novo arranjo orquestral, quer pela sua própria interpretação.

O sucesso desta versão foi tal que se tornou obrigatória até hoje nos espectáculos de Streisand e sempre que é tocada na forma original nos comícios do Partido Democrático é apenas em versão orquestral, sem que ninguém a queira cantar ao ritmo apresentado antes de Barbra!

Vamos ver a sua interpretação desta canção, também no mesmo concerto de Central Park de 1967!




E já agora numa emissão do Judy Garland Show de 1963, em que a já mais do que consagrada Judy chama a iniciante Barbra para cantarem em dueto duas canções em simultâneo! E, como aliás fica evidente no resto desse programa, tudo foi feito por Judy de forma a destacar a cantora mais jovem, que ela pressentia poder ser a sua sucessora natural!
É um momento de televisão magnifico para os apreciadores das duas cantoras!

Mirene Cardinalli - 40 anos depois

Completam-se amanhã 40 anos sobre o desaparecimento de Mirene Cardinalli!

Faleceu aos 27 anos, vitima de um brutal acidente de viação na “recta do Cabo”, no qual faleceu também o seu marido e ainda o jovem cantor Carlos Belo!

Possuidora de uma voz notável, à época da sua morte estava numa fase de viragem da carreira para um repertório completamente diferente do estilo do cançonetismo ligeiro mais comum na época.

Tinha em preparação com o compositor de baladas e canções de intervenção Vieira da Silva (também jornalista da revista Mundo da Canção), um disco onde incluiria entre outras a canção “Para a construção da cidade necessária”.

Ficaram-nos contudo os registos de algumas gravações, onde se evidenciam claramente as suas qualidades vocais e interpretativas:



O seu maior êxito popular, passado constantemente nas emissões de rádio, chamava-se “Julgamento”. Contudo, Mirene gravou outras canções, talvez até mais interessantes, incluindo a versão mais conseguida de Vocês Sabem Lá, que em nada fica atrás da versão original de Maria de Fátima Bravo.

Fica aqui pois a memória desse êxito popular e da sua intérprete, ainda presente na memória de todos os que admiravam, sabendo que se fez decerto muita falta ao mundo artístico português, terá feito obviamente, uma falta humanamente mais forte aos seus dois pequenos filhos, que nesse dia 19 de Dezembro de 1969 perderam em simultâneo Pai e Mãe!

terça-feira, dezembro 15, 2009

Standards

Constatei já há muito tempo que, ao contrário do que acontece no canto lírico e na música ligeira dos outros países, os cantores portugueses, regra geral não gostam de cantar os “standards” da nossa música.

Cantar um standard é submeter-se a uma prova, a uma comparação inevitável em que, ou se supera o já criado ou, simplesmente, se é mais um a cantar essa música.

Também pode acontecer que haja uma visão tão diferente da canção que leve a uma espécie de recriação do tema, a qual só tem sentido se for mesmo boa.

Interpretar standards é, portanto, um exame a que os artistas de quase todo o mundo voluntariamente se submetem, uma prova permite ao público avaliar melhor as suas capacidades vocais e interpretativas, assim como a da lucidez na escolha de repertório.

Cantar standards é indubitavelmente uma forma de enriquecimento do património que essas peças representam na história da música.

Para mim e para uma grande parte do público e dos críticos “Over de rainbow” é uma prova da excepcionalidade de Judy Garland, mas nem por isso deixou de ser uma aposta de muitas outras vozes, quase todas ficando aquém de Garland e não acrescentando nada à canção.

Contudo, nem por isso, ao longo dos tempos de Doris Day a Eric Clapton, de Frank Sinatra aos The Guns and Roses, mais de uma centena de cantores interpretaram “Over the rainbow”

Vemos aqui Garland, em 1943, cantando-a para os soldados americanos.



Mas quando à partida uma música tem um intérprete excepcional, como foi o caso de Garland, o caminho a seguir é o da recriação!

E foi o caso do surpreendente Israel Kamakawiwo'Ole, que mais de 50 anos depois da canção ser criada, a transformou radicalmente, dando-lhe uma nova dimensão que, por isso mesmo não compete com a versão original!

Esta sua recriação foi um verdadeiro sucesso de vendas em 1993, para mim, perfeitamente justificado.



Israel Kamakawiwo'Ole, mais conhecido no Hawai por Iz, teve um enorme sucesso, mas uma vida muito curta, a sua obesidade acarretou-lhe graves problemas de saúde, chegando a pesar quase 350 kg, o seu coração não resistiu e faleceu com apenas 38 anos em 1997.

Iz deixou com esta canção um legado, havendo agora seguidores que em vez de tentarem imitar Garland, o que na verdade não será nada fácil, pensam que copiar o estilo de Israel Kamakawiwo'Ole pode dar melhor resultado. Também, aqui as imitações não têm tido grande sucesso!

Um dos meus maiores prazeres ao tentar conhecer bem uma canção ligeira é exactamente descobrir novas facetas que novos interpretes podem oferecer a temas consagrados. E é isso mesmo que irei abordar em próximos posts!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Cadeira Vazia

No passado dia 26 de Novembro Mariza esteve em directo, na Rede Globo, em entrevista no Programa do Jô!

Nesse programa interpretou uma canção criada em 1950 pelo grande cantor brasileiro Francisco Alves e que mais tarde, pela voz de Elza Soares e sobretudo pela de Elis Regina, ficaria para sempre imortalizada.

Chama-se essa canção "Cadeira Vazia"!

Aparentemente, de acordo com o decorrer da entrevista, essa sua interpretação terá sido um improviso!

Contudo, todos sabemos que em televisão os improvisos, são normalmente ensaiados, mas o que é certo é que, improviso ou não, a dada altura Mariza perdeu-se na partitura, mas simultaneamente demonstrou que não é por acaso que é a melhor sucedida das cantoras portuguesas, na actualidade!

Para mim, que tenho acompanhado com alguma curiosidade a sua carreira e as críticas que ela levanta junto dos mais tradicionalistas do fado (a que se pode chamar mais propriamente despeito), ela teve com esta interpretação de "Cadeira Vazia" uma verdadeira prova de fogo, que ultrapassou brilhantemente, apesar dos precalços pelo meio.

Termino pois com música a duas vozes e, naturalmente, com esta "Cadeira Vazia"! Primeiro com Mariza, no referido programa de Jô Soares:




E depois com a insuperável Elis Regina, que começa esta canção limpando as lágrimas da sua emoção, após ter interpretado magistralmente uma das mais intensas obras de Chico Buarque: "Atrás da Porta".

Não consigo pois resistir a colocar aqui as duas canções, exactamente na sequência em que foram apresentadas em 1980, pela saudosa "Pimentinha":

Atrás da porta


Cadeira Vazia

terça-feira, novembro 24, 2009

prisioneiro no próprio corpo



De acordo com notícias publicadas ontem ficámos a saber a terrível história de Ron Houben, um belga de Liege.

O que lhe aconteceu, pode vir a acontecer a qualquer um de nós e certamente vai acontecendo todos os dias por esse mundo fora.

Ron há 23 anos teve um acidente que o deixou em coma e inconsciente, de acordo com os médicos.

Sua mãe contudo, teve sempre dúvidas relativamente ao estado do seu filho e insistiu, procurou segundas, terceiras, décimas opiniões e até que o neurologista Dr Steven Laureys, estudou melhor o seu caso e verificou um erro no diagnóstico.

Ron era um jovem saudável que de acordo, com os médicos teria após o acidente, ficado em estado vegetativo, sem ver, ouvir ou sentir o que quer que fosse.

Contudo os seus pais conheciam-no melhor que ninguém. Transferido do hospital para um lar de assistência a pessoas inválidas, os pequenos sinais que transmitia a seus pais, eram sempre desvalorizados pelos médicos, como meros tiques, típicos do estado em que se encontrava.

Em 1997, quando o seu pai faleceu, a mãe que acreditou sempre que o filho mantinha as suas capacidades cognitivas e que por isso estaria em sofrimento, informou-o da morte do pai. Ele pestanejou, para a mãe isso era um sinal óbvio, para os médicos mais uma vez não foi nada.

Afinal, percebeu-se depois, ao fim de 23 anos, que Ron ouvia, via, tinha o raciocínio intacto, apenas o seu corpo não conseguia dar qualquer manifestação disso.
Estava prisineiro de si mesmo, com a consciência perfeita de tudo o que estava à sua volta.

Só a sua mãe percebia que algo estava mal no diagnóstico oficial! E como disse aos jornais: "Quando se acredita nunca se deve desistir"



Transcrevo a seguir o artigo publicado no "Publico" que resume muito bem este terrível drama humano!

"Em 1983, Rom Houben, então um jovem estudante de engenharia e amante de desportos de combate, sofreu um acidente de viação. O seu coração parou e o seu cérebro ficou privado de oxigenação durante vários minutos. A partir dessa altura o seu corpo ficou paralisado e oficialmente em coma. Mas o diagnóstico dos médicos foi demasiado precipitado. Apesar de completamente imóvel, Rom conseguia ouvir tudo o que lhe diziam. Ouvia os médicos falarem do seu estado de saúde e ouviu a mãe comunicar-lhe a morte do pai. Ouviu tudo isto sem poder chorar nem mexer a cabeça. Estava consciente e com um cérebro a funcionar, mas nunca conseguiu que o seu corpo comunicasse esse facto.

Tudo mudou há cerca de três anos. O neurologista Steven Laureys, da Universidade de Liege, que decidiu experimentar uma nova abordagem aos doentes em coma, libertou-o da sua tortura. Usando um inovador sistema de monitorização da actividade cerebral através de ressonância magnética percebeu que o caso de Rom era o de um falso coma.

O momento em que descobriram que eu não estava num estado vegetativo, disse Houben, foi como se tivesse nascido outra vez. “Nunca esquecerei o dia em que me ‘descobriram’. Foi o meu segundo nascimento”, disse Rom à revista alemã “Der Spiegel”, que trouxe o caso a público.

Nos últimos três anos Rom Houben, agora com 46, foi submetido a intensas sessões de fisioterapia e já conseguiu recuperar algum movimento. Comunica através de um ecrã táctil, acoplado à sua cadeira de rodas.



Rom explicou que, durante todos estes anos, conseguiu suportar o pesadelo de não poder comunicar o seu estado através da meditação e revivendo episódios passados. “Viajei com os meus pensamentos para o passado, ou então para uma nova existência. Eu era apenas a minha consciência, e nada mais”, disse Rom, que fala quatro línguas.

“Impotente. Extremamente impotente. Inicialmente fiquei revoltado, mas depois aprendi a viver com isso”, recorda agora Rom, citado pela AP.

O neurologista Steven Laureys - que chefia o grupo científico que estuda os estados de coma no hospital universitário de Liege - acredita que este caso é apenas um entre muitos, estimando que possa haver inúmeros falsos comas diagnosticados em todo o mundo. Laureys estima que os doentes em coma são mal diagnosticados com “assustadora regularidade”. De entre 44 doentes que se pensava estarem em coma, 18 deles responderam fisicamente a pedidos de comunicação.

De acordo com o “The Guardian”, os médicos belgas que diagnosticaram Rom como estando em coma usaram a escala Glasgow Coma Scale, internacionalmente aceite. Esta escala monitoriza os movimentos dos olhos e as respostas verbais e motoras. Porém, apesar de terem usado esta escala, falharam em determinar o correcto funcionamento do cérebro do doente.

“A partir do momento em que alguém é diagnosticado como inconsciente, é muito difícil arrancar a pessoa a esse estado”, indicou Laureys ao “Der Spiegel”.

O neurologista indicou ainda que todos os doentes classificados num estado de coma não-reversível, deverão ser “testados dez vezes” e que os comas, tal como o sono, têm diferentes fases que precisam de ser monitorizadas.

Houben espera vir a escrever um livro contando a sua experiência e o seu “renascimento”, indica o "The Guardian"."


Assusta pensar que neste mesmo momento inúmeros seres humanos poderão estar a viver drama idêntico! Drama que a qualquer um de nós, ou aos nossos entes queridos, poderá igualmente acontecer.

Face à evolução da Medicina e da Ciência em geral, creio que podemos acreditar em muita coisa, contudo ter uma fé absoluta nas "verdades" científicas é um risco que se vai comprovando ser demasiado grande e com consequências de sofrimento para além do imaginável.

Chegado a esta fase da minha vida, em que por razões pessoais e familiares me tornei frequentador assíduo de consultórios e hospitais, creio que apesar de ser sempre necessário ouvir atentamente as opiniões médicas, temos que estar alerta, usarmos a nossa própria cabeça e, eventualmente, lutar como fez esta mãe, até ao limite da dissipação total das dúvidas que nos possam surgir!

Ao fim e ao cabo nem os médicos são Deuses, nem nenhuma verdade em Medicina é mais absoluta e segura do que a verdade da Morte.

E por isso, até ela acontecer há sempre uma outra possibilidade, por ínfima que seja...

Contudo, a alternativa à morte também não deverá ser o prolongar de um sofrimento sem esperança...

A necessidade de se perceber bem a situação do doente a a luta por um dignóstico seguro e completo deverá ser uma prioridade para todos nós, enquanto indivíduos e enquanto cidadãos.

Economicismos na Área da saúde, são por isso, do mais estúpido e desumano que pode acontecer numa sociedade civilizada!

terça-feira, novembro 17, 2009

Villa-Lobos

Passam hoje 50 anos da morte de um dos maiores compositores clássicos do século XX: Heitor Villa-Lobos.

Para além de compositor, músico e maestro dedicou-se à pedagogia musical através da criação empenhada de inúmeros coros infantis, como método previligiado de levar a música aos mais jovens.

Aquando da sua morte o grande poeta Carlos Drummond de Andrade lembrou que:” Quem o viu um dia comandando o coro de 40 000 mil vozes adolescentes, no estádio do Vasco da Gama, não pode esquecê-lo nunca. Era a fúria organizando-se em ritmo, tornando-se melodia e criando a comunhão mais generosa, ardente e purificadora que seria possível conceber".

As suas influências musicais adquiriu-as tanto no estudo académico, como no autodidactismo, como ainda nas raízes folclóricas no interior norte do Brasil, embrenhando-se de tal maneira na sua actividade de recolha musical, que fica durante anos sem dar notícias à família! Quando regressa ao Rio encontra-a numa missa…. Em sua memória! Sua mãe julgara-o morto!



Avançado demais para o seu tempo, de inicio viu-se a braços com a incompreensão quer da crítica quer do público, quer ainda dos músicos seus contemporâneos. Quando convidado para dirigir a estreia da sua primeira Sinfonia os músicos da Orquestra recusam-se a tocá-la, designando-a por “uma coisa cheia de dissonâncias”.

Contudo, estes contratempos não o fazem desistir, muito pelo contrário, compõe e viaja e a sua fama espalha-se. O virtuoso Artur Rubinstein toma a iniciativa de se encontrar com ele, numa altura em que Villa-Lobos para sobreviver tocava numa orquestra de cinema.

Villa-Lobos incomodado, por ser encontrado naquela situação por Rubinstein, não aceita bem a visita do famoso pianista, mas no dia seguinte apresenta-se com um grupo de músicos no Hotel onde Rubinstein estava hospedado para lhe mostrar as suas músicas.

Rubinstein ganha uma consideração tal por Villa-Lobos que para o ajudar financeiramente chega a adquirir-lhe obras, sob o pretexto de haver terceiros interessados nelas.

Entretanto o prestigio do compositor vai aumentando, Paris torna-se um dos principais locais de actividade, em cujo conservatório chega a leccionar a par de Maurice Ravel, Manuel de Falla e Artur Rubinstein.

Os seus “Choros”, “Serestas” tornam-se famosos em todo o mundo. Tal como viriam a ser as suas Bachianas e Missa de São Sebastião. Torna-se maestro convidado em orquestras do mundo inteiro.

Contudo são as suas composições que acabam por o imortalizar. Homem simultaneamente difícil e simples era um bom vivant que alguns diziam ter sempre as mãos ocupadas: Numa um charuto, noutra um copo!

A sua morte aos 72 anos, faz hoje precisamente 50 anos, deixa todo o Brasil comovido e o mundo mais pobre, como na altura salientou o New York Times, que lhe dedicou o editorial.

No seu funeral milhares de pessoas estiveram presentes, enquanto nas escadarias do belíssimo Teatro Municipal um coro interpretava a Missa de São Sebastião.




50 anos passados, a sua obra perdura, sendo considerada de raiz profundamente brasileira é, pela sua riqueza, beleza e originalidade, de uma intemporalidade verdadeiramente universal.

Deixo aqui dois belos exemplos.

O primeiro trata-se do Choro nº 1, interpretado pelo extraordinário guitarrista Turibio Santos.



O segundo é, como não poderia deixar de ser a ária das Bachianas Brasileiras nº 5, na voz de uma das maiores cantoras líricas de todos os tempos, a também brasileira Bidu Sayão:

sexta-feira, novembro 13, 2009

Mensagem: A promoção pública do graffiti




De acordo com a noticia agora posta a circular pela edição on-line do semanário SOL, a Empresa Pública Estradas de Portugal vai decorar com graffitis os muros do IC19. Transcrevo:

"Num comunicado, a EP explica que no próximo fim-de-semana, o Colectivo Cultural GRAUU, associação especialista na arte urbana dos graffiti, vai preparar alguns dos muros para oito dias mais tarde grafitar junto ao IC19.

«A EP pretende enquadrar o ambiente rodoviário e dignificar também este tipo de expressão artística, chamando artistas da zona para comporem um mural que transmita aos automobilistas [a ideia] que estas manifestações podem constituir um elemento de valorização da estrada», disse fonte da empresa.

A EP acredita que a segurança rodoviária será salvaguardada, uma vez que a não utilização em excesso de cores muito fortes e a não representação de motivos potencialmente ofensivos, foram considerados como principais requisitos na elaboração deste projecto.

Segundo a fonte da empresa, esta é uma solução ousada que a EP encontrou para combater os graffiti desconexos que aparecem nas barreiras acústicas e nos muros edificados dos seus empreendimentos, usando a mesma arte para servir melhor os automobilistas.

A empresa adiantou à Lusa que faz depender do sucesso desta iniciativa, novos projectos de graffitis para outras estradas da concessionária.

Esta é uma iniciativa conjunta da EP e da Câmara Municipal de Sintra e tem início no sábado às 10h, estendendo-se até ao fim-de-semana seguinte."



Pelos vistos a Empresa Pública Estradas de Portugal" e a "Câmara Municipal Sintra" consideram o Graffiti como ARTE, o que só por si é, no mínimo controverso em termos de conceito!

Mas não só! O que se propõem fazer acaba por transmitir um sinal muito concreto que se traduz numa mensagem implicita de aceitação pública do graffiti, com os naturais efeitos que ela implica.


É que se trata de uma mensagem, que chegará a quem pratica esta actividade, como se fosse uma luz verde das autoridades, um sinal que liberta os poucos constrangimentos sociais e morais que os autores destes actos ainda possuiriam.

Ou seja, a Empresa Pública Estradas de Portugal e a Câmara Municipal de Sintra (ao resolverem um problema da forma mais incompetente possivel, transformando em lícito o que é ilicito, sob a pretensa designação de "arte") estão a marimbar-se completamente para os efeitos que a mensagem do seu acto traduz, a qual constitui, pura e simplesmente, a validação moral de actos de vandalismo público.

Entendo que o combate à proliferação de gatafunhos e desenhos nas paredes e muros deste País deveria ser, para quem tem por missão a salvaguarda do património, uma questão de principio em prol de uma sociedade mais decente e mais civilizada.

Aliás face ao estado actual das nossas cidades, essa deveria ser uma preocupação essencial, de quem gere o seu destino!




Ora o que está noticiado para a decoração com graffitis do IC19, pela mensagem que implicitamente transmite, promove exactamente o contrário deste principio e por isso. eu manifesto aqui o meu protesto contra a imprudência deste acto concreto, contra os efeitos indirectos que ele promove, sendo certo que, ainda por cima, se trata de uma actividade que irá paga, é claro, com os meus impostos!

Pode ser que os jovens com talento na arte de manusear latas de spray tornem os muros do IC19 até mais belos do que a Capela Sistina. Não é isso que está em causa!

O que contesto é a atitude de entidades públicas que, para além de não terem um pensamento civico responsável, assentam a sua gestão no principio de que "se te dá muito trabalho vencê-los, então junta-te a eles!"

Pensei, durante muito tempo, que quem estava investido de autoridade pública tinha a responsabilidade social de manter os espaços limpos e de promover uma cultura cívica desincentivadora de actos de vandalismo da propriedade alheia, como aqueles que vimos abundantemente nos nossos edificios e muros.

Aos legisladores caberia criminilazar estes actos, inibir e combater a sua realização de todas as formas, procurando fomentar uma cultura cívica que considerasse o acto de escrever e desenhar em espaços públicos como um acto pernicioso à sociedade.

Às Câmaras e a todas as restantes entidades que gerem espaços públicos caberiam as acções concretas de limpeza e de controle, para evitar a degradação do ambiente urbano.

Ora, não só não têm qualquer tipo de actuação neste campo como, com este tipo de atitudes vêm fomentar exactamente o oposto. Em vez de desincentivarem, tornam licito algo que, a mim como cidadão que percorre este País, me desgosta e envergonha.

No Brasil, este tipo de actos dá penas de cadeia efectiva de 3 meses a um ano e uma pesada multa! Muitos outros países civilizados seguem este mesmo exemplo!

É obvio que só com a consciência de que se está perante actos socialmente reprováveis, que inclusivé têm pesadas consequências penais, é que se pode reduzir a dimensão destes fenómenos e se ir encaminhando a consiciência cívica dos mais jovens para o rumo certo.

Um grupo juvenil que tem "enfeitado" a chamada linha de Cascais, colocou no youtube o seguinte vídeo onde mostra a sua "arte":




Acaba por ser, no fundo, este tipo de intervenções que a atitude das Estradas de Portugal e da Câmara de Sintra irão indirectamente incentivar!

Não acredito que não tenham essa percepção! O que acredito é que não se importam, porque as implicações do que estão a fazer não os incomodam.

Infelizmente, vai-se ouvindo, cada vez mais dizer mal da nossa classe dirigente. Actos destes, o que é que nos pode levar a pensar sobre essas pessoas?

Que para uns o entendimento de serviço público não é relevante. Apenas a sua carreira política ou o seu lugar de gestor conta!

Não se detêm com estratégias sérias de futuro, remetem-se exclusivamente à resolução simplista das questões que vão surgindo, ainda que com isso possam até estar a alimentar a raiz dos próprios males que querem combater!

Que para outros a ocupação dos lugares que desempenham não deriva de competência ou de preparação cívica, pelo que nem sequer terão consciência dos erros que praticam e tão pouco virão a prestar contas por este tipo de acções!

Por isso, já que esses "responsáveis" consideram que esta arte valoriza tanto os espaços públicos, espero bem que tenham a justa retribuição desta sua forma de gerir.

Ou seja, espero que os praticantes da modalidade "artistica" graffiteira, descubram rapidamente onde residem os Senhores Administradores da Empresa Pública Estradas de Portugal e do Presidente e Vereação da Câmara de Sintra para os presentear com este tipo de "arte" nas paredes exteriores das suas habitações. Afinal estamos a chegar ao Natal e pelos vistos eles gostam e merecem!

terça-feira, novembro 10, 2009

Matar saudades de dois filmes, da sua música e de uma actriz

Encontram-se finalmente à venda em Portugal os filmes de Jacques Demy " Les parapluies de Cherbourg"



e "Les Demoiselles de Rochefort", ambos com a belíssima música me Michel Legrand e com a bela Catherine Deneuve.




O primeiro bem mais interessante que o segundo!

Totalmente cantado, sendo a voz de Catherine dobrada por Danielle Licari, cantora que mais tarde faria um sucesso mundial com "Concerto para uma Voz".

Uma aposta arriscada de filme musical, tendo por fundo uma história de encontros e desencontros amorosos, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes e cinco nomeações para os Óscars de Hollywood.

O segundo, tem a curiosidade de contar com a presença de Françoise Dorléac, irmã mais velha de Catherine na vida real, e que nesta película fez o papel de sua irmã gémea.



Esta presença de Françoise Dorléac, também talentosa actriz e belíssima modelo da Casa Dior, acabou por ter um imenso impacto na promoção de "Les Demoiselles de Rochefort", dado que poucas semanas após rodar o filme, quando se dirigia apressada para o aeroporto, a fim de participar na estreia oficial em Londres, sofreu um terrível acidente, tendo falecido carbonizada dentro do seu Renault 10. Tinha apenas 25 anos.

Para mim, que me recordo de ter vistos ambos os filmes no cinema, ficaram-me sobretudo na memória os rostos de Catherine e Françoise e, acima de tudo, as belissimas músicas de Michel Legrand.

Duvido que actualmente estes fimes abram o apetite do grande público!

Na verdade, acredito que apenas alguns saudosistas e coleccionadores que já passaram dos 50, lhes prestem verdadeiramente atenção.

Contudo, para todos, menos e mais jovens, vale a pena estar atento às músicas que Michel Legrand compoôs para estes filmes e que se tornaram verdadeiros clássicos.

Les Parapluies de Cherbourg



Les Demoiselles de Rochefort

domingo, novembro 08, 2009

KRISTALLNACHT

Amanhã, 9 de Novembro passará mais um aniversário da “ Noite de Cristal”.

Passados 71 anos, cada vez faz mais sentido recordar esse acontecimento trágico, que marcou o ponto de viragem entre uma política de terrível discriminação para uma política de genocídio deliberado.

No dia 7 de Novembro de 1938 o jovem judeu Herschel Grynspan, de 17 anos, desesperado devido à deportação de seus pais, assassina em Paris o responsável por essa deportação, o diplomata alemão Ernst von Rath






Esse foi o pretexto ideal para que na noite do dia 9 de Novembro de 1938, Hitler ordenasse a Goebbels um violento ataque à comunidade judaica por toda a Alemanha, Austria e sul da Checoslováquia.

Esse ataque deveria parecer um acto espontâneo de revolta do povo alemão contra os Judeus e por isso foi levado a cabo por milhares de SS e membros do partido nazi, trajando à civil.

Destruíram-se centenas Sinagogas, milhares de estabelecimentos judaicos, foram mortos centenas de judeus, feridos vários milhares e presos cerca de 30000.



Se é verdade que a História assinala aqui o início do Holocausto, o certo é que este foi apenas mais um episódio, agora de contornos extremamente violentos, de uma política sistemática contra o povo Judeu levada a cabo desde a chegada ao poder dos nazis em 1932.

A designação de Noite de Cristal (Kristallnacht) prende-se com o facto de o som mais audível naquela noite e o aspecto mais visível após os actos ter sido o dos vidros quebrados de milhares de vitrines de comerciantes judeus.





De inicio, o regime de Hitler começou por interditar determinadas profissões a judeus, médicos e advogados, por exemplo!

Expulsou-os de todos os serviços públicos, ordenando um boicote a todas as lojas propriedade de judeus onde mandou inscrever em letras garrafais a palavra JUDE (judeu).





Seguidamente surgem as Leis de Nuremberga que retiram a cidadania alemã aos judeus, tornando-os párias e sem quaisquer direitos no seu próprio país, proíbe o relacionamento sexual entre judeus e não judeus, que um não judeu trabalhasse para um judeu e ainda que judeus e não judeus trabalhassem ou estudassem juntos.

A todos os homens judeus, cujo primeiro nome não tivesse origem judaica mandou inscrever no seu registo como segundo nome, Israel, e às mulheres. Sara!

Todos os judeus passaram a ser obrigados a usar a estrela amarela de David cozida nas suas roupas.




Claro que todo o mundo sabia o que se passava, claro que todo o mundo se sentia horrorizado, claro que todo o mundo fingia não perceber a gravidade do problema e olhava para o lado!

E olharam para o lado de forma oficial mesmo, o que viria a dar luz verde, que Hitler esperava para iniciar com a Noite de Cristal o seu programa de Solução Final.
Na verdade, no inicio de 1938, para aliviar as suas consciências alguns países ocidentais organizaram uma Conferência Internacional em Evian-les-bains, na fronteira de França com a Suiça.

Nessa Conferência, que durou 9 dias, com o objectivo de abordar a questão da perseguição que milhões de seres humanos sofriam, por parte do regime nazi, saiu apenas um gesto de simpatia e apenas um dos 32 países presentes, a pequena República Dominicana se dispôs a acolher 100.000 refugiados judeus.






Os Estados Unidos que tiveram a iniciativa da conferência, enviaram como seu representante um amigo do presidente Roosevelt sem quaisquer poderes oficiais, que se limitou a lamentar os factos, sem se comprometer com a aceitação de mais judeus para além de algumas dezenas de milhar que já tinham rumado até aquele país desde 1933.

Aliás quando 2 senadores democratas propuseram posteriormente uma Lei que permitiria o acolhimento de 20.000 crianças judaicas orfãs, essa Lei foi rejeitada pelo Senado, alegando-se que 20.000 crianças se viriam a tornar a médio prazo em 20.000 adultos que retirariam empregos a americanos.

Em Inglaterra sucedeu exactamente o mesmo, o Governo sob pretexto patético de evitar imaginárias tensões dentro da própria comunidade judaica existente naquele país proibiu a entrada de mais refugiados judeus.

A este propósito Chaim Weizmann, que viria a ser o primeiro Presidente do Estado de Israel, comentou tristemente ao jornal londrino The Guardian: «O mundo parece estar dividido em duas partes: Uma onde os judeus no podem viver e outra onde não podem entrar»





Face aos resultados da Conferência, o Governo de Hitler ironizou declarando-se espantado por os países estrangeiros criticarem a Alemanha pela forma como tratavam os judeus, quando porém, nenhum deles se dispunha efectivamente a abrir suas portas quando “a oportunidade surgia”.

Sendo óbvia a indiferença internacional, poucos meses depois surgiu a Hitler a oportunidade de pôr em marcha o seu projecto e a Noite de Cristal aconteceu!

Numa altura em que há vozes que se atrevem a negar o Holocausto, em que poucos restam das gerações que testemunharam os acontecimentos, em que estes temas passaram a ser para os mais jovens apenas mais um capítulo no seu compêndio de História, é necessário relembrar que o Mal Absoluto existiu e avisar com estas memórias, com toda a insistência, que ele poderá repetir-se!

Deixo, por isso, para terminar, um interessante filme de quase 19 minutos sobre estes acontecimentos realizado o ano passado pela televisão brasileira a propósito dos 70 anos da KRISTALLNACHT. Para que a memória perdure!

quarta-feira, novembro 04, 2009

Judith Durham - uma voz que atravessou gerações

O nome de The Seekers pertenceu a um conjunto famoso nos meus tempos de infância e adolescência



Sempre me maravilhei com voz belíssima da vocalista Judith Durham, pois ela pegava em certas canções e conseguia elevá-las, no meu modesto entender, a um nível de beleza e elegância insuperáveis. Vejam por exemplo o que ela fez com Skyline Pidgeon de Elton John:




Os Seekers eram um jovem grupo australiano, que a meio da década de 60 foi tentar a sorte em Londres e foi tão bem sucedido que uma estadia prevista inicialmente para poucas semanas se transformou numa permanência de quase dois anos.

Não rivalizavam com os Beatles, embora fossem seus contemporâneos e alternassem com eles no primeiro lugar dos TOPs.

Os The Seekers tinham um estilo próprio, um público próprio de todas as idades, sem excepção!




Judith Durham, contudo, tinha os seus próprios planos de vida e de carreira e acertou pacificamente com os seus colegas uma separação amigável no Verão de 1968.

Foi feito um concerto de despedida em Londres, em 7 de Julho desse ano, com os seus maiores sucessos e quem a ele assistiu recorda-se de os acordes de “I’ll never find another you” e “The Carnival is Over”, serem acompanhados por um imenso coro de suspiros e do choro de um público inconsolável!

O conjunto desfez-se, um dos elementos Keith Potger formou os New Seekers, que alcançaram igualmente enorme sucesso nos anos 70 no Reino Unido e Judith partiu para a Austrália, onde cumpriu um dos seus maiores sonhos, casar-se com o músico e compositor Ron Edgeworth.



Judith iniciou então uma carreira calma e discreta, voltando à sua paixão de juventude pelo Jazz e por alguns clássicos de sempre, como este “Climb Every Mountain” que no inicio dos anos 70 o meu pai me deu a ouvir e que eu nunca mais esqueci.



Mas como a vida raramente consegue ser uma eterna bonança, em 1990 Judith e o marido sofreram um terrivel acidente de automóvel que os atirou para uma cama de hospital durante largos meses.

Esse acidente fê-la naturalmente repensar toda a sua vida e levou-a a convidar os antigos membros do seu grupo para que se reunissem de novo.

A antiga amizade e o desejo de voltarem a reviver os antigos tempos levaram-nos de bom grado a reiniciar as suas aparições públicas pela Austrália, quando inesperadamente Judith teve a notícia que o seu marido possuía uma doença degenerativa motora, que em Portugal conhecemos por ELA.

E assim o regresso dos Seekers não pôde ser exactamente o que todos haviam sonhado, pois Judith optou por ficar à cabeceira do marido, que acabaria por sucumbir no espaço de dois anos!

Este facto levou-a a tornar-se na principal doadora e impulsionadora de uma Associação de Apoio e Investigação de Doenças Neurológicas Motoras, ocupando com ela boa parte do seu tempo.

Voltaria mais tarde aos palcos com os seus amigos de sempre e durante mais alguns anos mantiveram-se juntos encantando plateias australianas, britânicas e americanas.



Judith ainda mantém uma belíssima voz e do concerto comemorativo dos seus 60 anos, realizado no imenso Royal Festival Hall em Londres em 2004, foi feito um DVD magnifico, que infelizmente só através da Amazon consegui adquirir!

Deixo no entanto, para encerrar este meu testemunho sobre Judith Durham, imagens de um concerto em Sidney, em que aos 65 anos de idade apresentou uma das suas canções mais populares de sempre: “The Carnival is Over”, canção que curiosamente só a sua teimosia fez com que fosse gravada no já longínquo ano de 1965.

Trata-se de uma melodia do folclore russo, que os restantes elementos dos Seekers se recusavam a gravar por não a considerarem interessante. Ainda bem que ela os convenceu, até porque esta canção se tornou simbólica para o povo australiano e é usada para encerramento dos principais eventos sociais, desportivos e musicais.

Em 2000 estava prevista a sua apresentação no encerramento dos Jogos Olímpicos de Sidney e tal só não aconteceu porque Judith partiu um tornozelo poucos dias antes.

Nessa altura a organização do jogos recorreu a um grupo coral e o assunto resolveu-se. Contudo meses mais tarde para o encerramento dos Jogos Paralimpicos, também em Sidney foi mesmo Judith numa cadeira de rodas que a interpretou.

Termino pois com as imagens mais recentes de Judith, de Março deste ano, como homenagem e recordatória de uma voz magnifica que felizmente, através dos seus discos, me acompanha há décadas:


sexta-feira, outubro 30, 2009

Eva Cassidy, vencer para além da morte

Para mim é sempre um prazer vir aqui falar das minhas preferências musicais.

O meu gosto muito pessoal por vozes femininas não poderia deixar de passar por Eva Cassidy!



A sua carreira foi muito curta, tal como a sua vida. Faleceu no final de 1996, com apenas 33 anos de idade!

Até à sua morte o conhecimento dos seus trabalhos era apenas restrito localmente, na zona de Washington. Dois anos mais tarde, um título de um importante jornal de Boston diria dela: “Após a morte, uma voz única toca os corações de um mundo que nunca a viu cantar”

De facto, Eva nunca conseguiu encontrar uma editora discográfica que a aceitasse tal como ela era e, muito embora reconhecessem o seu talento, achavam-na pouco comercial, quer nas suas composições próprias, quer nas versões que fazia de temas de outros cantores.

Ela ía do folk ao jazz, passando pela pop, dando-lhe o seu cunho pessoal que não cabia em nenhuma catalogação pré-concebida pelas empresas discográficas.





Contudo, tal como em muitas outras situações, a morte da jovem cantora veio a despertar o interesse comercial dos produtores musicais e a partir de algum material gravado particularmente e do CD que ela própria produziu no ano em que faleceu, editou-se uma colectânea que vendeu mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos e Reino Unido.

Interpretações suas são agora utilizadas como temas de séries da TV e graças às possibilidades técnicas actuais, Norah Jones e Katie Melua já editaram duetos virtuais com Eva Cassidy, num aproveitamento nem sempre muito feliz, diga-se de passagem!



No segundo semestre de 1996 foi-lhe diagnosticado um melanoma num estado avançado e com inúmeras metastases. Foi-lhe recomendado um tratamento quimico bastante agressivo sob pena de não conseguir viver mais do que 4 meses.

Acreditando que o tratamento a poderia salvar submeteu-se a ele, alimentando naturais esperanças. Afinal ainda era tão nova e tinha tanto para dar! O tratamento não foi para ela senão um agravar do seu sofrimento e, no final, nem 4 meses chegou a sobreviver!

Teve um fim trágico esta moça calma, envergonhada, mas muito firme nas suas convicções, sem compromissos fúteis com interesses comerciais.



Eva Cassidy é hoje finalmente reconhecida como uma das grandes vozes da musica popular americana dos finais do século XX para grande satisfação das editoras!

quinta-feira, outubro 22, 2009

Uma surpresa agradável


A composição do novo Governo português foi anunciada. Teve para mim uma excelente surpresa: Gabriela Canavilhas irá ser Ministra da Cultura.

Gabriela Canavilhas é das personalidades mais fascinantes da música e da cultura portuguesas.

É uma comunicadora excepcional ( a sua presença nas manhãs da Antena 2 é absolutamente inesquecível) e tem adquirido nos últimos anos experiência em lugares de direcção executiva, como presidente da Direcção da Orquestra Metropolitana de Lisboa, membro do conselho directivo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e Directora Regional da Cultura dos Açores.

Fico a aguardar... Depois do Primeiro-Ministro ter reconhecido que no mandato anterior não deu muita atenção à cultura, espero que agora, ao encontrar alguém de horizontes tão vastos, tal possa ser revertido.

Apoiante desde há muitos anos do Partido Socialista, Gabriela Canavilhas sempre foi um espírito livre e aberto.

Desejo-lhe muita sorte no cargo, o que será decerto magnífico para o País.

Sendo uma excelente pianista, premiada nacional e internacionalmente, tem uma marca distintiva na sua carreira, que é a da divulgação dos compositores Portugueses, razão pela qual alguns dos compositores nacionais lhe dedicam as suas obras, que ela tem apresentado em primeira audição!

Termino pois com uma gravação de uma interpretação de Gabriela Canavilhas de uma obra do compositor Alfredo Keil: "Murmures"

terça-feira, outubro 13, 2009

République bananière française

É assim que os jornais franceses e estrangeiros estão a falar do que está a passar actualmente em Paris.

Primeiro veio Giscard D’Estaing, num romance que publicou no final de Setembro, sugerir que teria tido uma aventura amorosa com a falecida Princesa de Gales.






O alvoroço foi tanto, dos dois lados da Mancha, que D’Estaing foi obrigado, em 48 horas, a ir inventando explicações sucessivas para que o caso pudesse ter um fim honroso!

Na verdade, tendo a conta a trajectória de vida da Princesa e a importância pública do autor, sugestões deste teor exigem naturalmente uma clarificação rápida!

Para além do mais a um ex-presidente da França, de 83 anos, e membro da solene e prestigiada Academie Française, não ficam bem os epitetos de falta de cavalheirismo, de difamador alucinado ou de velho tarado. Para além de que a sua mulher, ainda viva, parece também ter ido aos arames com este assunto!

Mas ainda soavam os ecos deste picaresco episódio, eis senão quando o actual o Ministro da Cultura francês resolveu defender o realizador Roman Polansky, relativamente a um caso de pedofilia, de que se encontra acusado nos Estados Unidos!

Ora vai daí, a vice-presidente da Frente Nacional de Extrema-Direita, Marine Le Pen, filha do Presidente desse Partido, Jean Marie Le Pen, vem desenterrar uma autobiografia desse Ministro, um sobrinho de Mitterrand excomungado pelo PS francês.

E vai buscar essa autobigrafia, já com cinco anos de publicação, pois nela estão escarrapachados alguns pormenores picantes de incursões sexuais na Tailândia, cujos jovens o Ministro parece apreciar com bastante desenvoltura e entusiasmo!

Quão jovens foi a questão que a França debateu na primeira semana de Outubro! Jovens adultos jurou a pés juntos o Ministro e, com ele, o resto do Governo francês!

Assunto encerrado! E com o livro autobiográfico de Frédéric Mitterrand chamado "A Má Vida” a tornar-se num verdadeiro best-seller!


Mas, a bem dizer, se o assunto foi encerrado, foi principalmente porque agora novo escândalo apareceu, desta vez com o segundo filho do próprio Sarkozy.

A coisa é simples: O jovem Jean Sarkozy de 23 anos, com aparente sucesso junto do público feminino, mas com menor sucesso na faculdade de Direito, onde repete o segundo ano, foi colocado pelo papá num alto cargo da Administração Francesa.

Esse cargo é o de Presidente do Conselho de Administração da EPAD, a agência que faz a gestão da zona de “La Défense et les Hauts-de-Seine” com um orçamento de mais de mil milhões de euros anuais e que tem a seu cargo, directa e indirectamente, umas boas dezenas de milhares de funcionários.

Claro que ele não tem a mínima experiência, formação ou maturidade para o lugar, mas a vida é mesmo assim e há que dar oportunidades aos jovens, até porque como o próprio Nicholas Sarkozy já exerceu o cargo há 5 anos atrás, poderá, sempre que for preciso, dar umas boas dicas ao filhote!



Segundo parece a comunicação social e a opinião pública estarão a receber mal esta ideia, mas o partido maioritário apoia o Presidente e, bem vistas as coisas, para a semana sabe-se lá o que vai acontecer, pelo que o mais provável é que este caso passe a ser apenas mais um!

Depois das confusões matrimoniais no início do seu mandato, dos boatos que o ligavam à gravidez de uma ministra que nunca quis revelar a identidade do pai da criança, das deselegâncias protocolares com senhoras, como já aconteceu com a Chanceler alemã Ângela Merkl e com a Rainha Isabel II e da piela pública após reunião com Putin, os jornais franceses esperam ansiosos o que decerto virá aí.



Para eles este Presidente é um verdadeiro Maná!

segunda-feira, outubro 12, 2009

À Esquerda de Lisboa, passando por Oeiras!

Terminadas as eleições autárquicas, relativamente às quais manifestei a minha intenção de voto publicamente, surgem-me as seguintes reflexões:

Embora convidados para o fazer, a CDU e o BE recusaram participar, para Lisboa, num acordo pré-eleitoral à Esquerda. Esse acordo envolveria naturalmente o PS!

Para mim, face a uma coligação à Direita nada de mais lógico, legítimo e natural que a Esquerda se unisse e se preparasse com armas iguais para a disputa eleitoral em Lisboa.

Entretanto, como se sabe, houve desde há meses muito boa gente a pensar nestes termos e a agir por esta causa!

Centenas de personalidades da nossa vida política, cultural e artística uniram-se e fizeram todos os esforços para que uma coligação de Esquerda se viesse a concretizar.

CDU e Bloco mantiveram-se intransigentes na recusa de um compromisso, sabendo, mas parecendo não se importar, que com a sua posição, estavam a fortalecer as hipóteses de vitória do candidato da coligação de Direita!

Entretanto, revelando que à Esquerda ainda existe alguma lucidez o Movimento de Cidadãos por Lisboa liderado por Helena Roseta, a Associação Lisboa é Muita Gente de José Sá Fernandes e o Partido Socialista chegaram a um entendimento.




A luta eleitoral foi bastante disputada e o resultado já todos o conhecemos!

Após o acto eleitoral o que resta para os partidos à esquerda do PS?

A CDU reduziu a sua presença na Câmara a um único Vereador e o Bloco perdeu a presença que lá detinha!

Em vez de participarem, podendo contribuir e influenciar politicamente as decisões camarárias, CDU e BE, seguiram uma estratégia autista, que os levou directamente à derrota.

Estratégia que, paradoxalmente, permite agora que o PS tenha uma maioria absoluta, que eles não têm o mínimo poder para controlar!

Perderam a CDU e o BE mas, com isso, a própria Câmara ficou menos plural e mais pobre!

A votação entretanto fez prova de que, felizmente, os eleitores não seguem cegamente as opções dos dirigentes partidários. E se os dirigentes da Esquerda que temos não foram capazes de entender o óbvio, os eleitores anónimos acabaram por lhes dizer que são os partidos que têm servir o interesse dos eleitores e não o contrário.

Quando o PS errou, ao desvalorizar a a canditura já existente de Manuel Alegre, escolhendo Mário Soares para candidato presidencial, teve a surpresa de ver a maioria dos seus eleitores fugirem para Manuel Alegre!

Será que a CDU e o Bloco pensavam estar imunes a esse tipo de situações?

É bom que tenham aprendido a lição! É bom que percebam que os cidadãos hoje em dia já não precisam de vanguardas iluminadas que decidam por eles.

É bom que reflictam que em Democracia, na casa comum da Esquerda não temos todos que pensar o mesmo sobre as mesmas coisas mas que, quando estão em causa princípios, o que une é sempre mais forte do que o que divide.

Não agir assim é ser sectário e “pequenino” e prestar um mau serviço à Democracia e ao País!


Por último, gostaria de referir algo que considero também ser um sintoma doentio da Democracia portuguesa!

Falo da reeleição de Isaltino de Morais em Oeiras!

É necessário que todos os dirigentes políticos pensem, tanto à Esquerda como à Direita, no fenómeno Isaltino.
Marques Mendes e João Cravinho já nos apontaram caminhos para que a Política em Portugal se torne algo de sério e respeitável aos olhos dos portugueses!

Ontem à noite, numa das televisões, foi repetida uma frase que eu já ouvira outras vezes: “Ele rouba, mas todos fazem o mesmo e muitos até roubam mais que ele! A diferença é a de que este foi apanhado!"

Uma votação como a que teve Isaltino de Morais, num concelho como Oeiras, faz-nos acreditar que pensamentos como este já se entranharam e vulgarizaram no caldo de cultura em que este País se afunda!

Uma frase destas surgir em mesas de café, entre amigos, tem a importância de um fait-divers pateta, contudo, quando a dimensão da coisa se torna tão forte que as próprias televisões já reproduzem estes comentários dentro da análise política dos resultados eleitorais, faz-nos perceber que chegámos já ao nível do que de pior existe na América do Sul.

É bom portanto que quem tem poder neste País tome decisões sérias nesta matéria,

Se não, não nos admiremos que em próximas eleições, à semelhança do que era dito de um eterno vencedor de eleições em São Paulo, apareçam, sem escandalizar ninguém, slogans de candidatos dizendo: “Rouba, mas também faz”

sexta-feira, outubro 09, 2009

Anne Frank



A Fundação Anne Frank colocou ontem no Youtube as únicas imagens em movimento da jovem Anne.

São breves segundos, em que ela vem a uma janela espreitar a saída de um casal seu vizinho.



A familia Frank, judia oriunda da Alemanha, cedo percebeu que não estava segura no seu país natal e com a chegada dos nazis ao poder, partiu em 1933 para Amesterdão.
O seu sossego terminou contudo com a invasão dos Países Baixos pela Alemanha em 1940 e desde aí tudo se modificou, com as crescentes medidas anti-semitas que foram sendo introduzidas.

A história de Anne e da sua família é hoje por demais conhecida.

Depois de escondida num fundo falso da sua casa em Amesterdão, sem ver a luz do sol durante mais de dois anos, em Agosto de 1944 a jovem judia Anne de 15 anos foi capturada e enviada para o campo de concentração de Wsterbork, local de passagem para o seu envio para Auchwitz.

Aí fica apenas um mês, a superlotação deste campo levou a nova deportação para outro campo, o de Bergen-Belsen. Não viveria muito tempo! A poucas semanas da libertação Anne e sua irmã Margot morrem de fome e febre tifoide, com poucos dias de diferença. estava-se já em Março de 1945.

O anexo secreto onde viveram foi destruído durante a rusga policial que levou à detenção de toda a família Frank.

Dias depois, misturado com lixo espalhado pelo chão, um operário encontrou os cadernos onde Anne escrevera seu diário. Não sabendo do que se tratava, entregou-os a Miep Gies e Elli, duas amigas não judias da família Frank, que por falta de provas de colaboracionismo com judeus acabaram por não ser detidas pela Gestapo.

Percebendo o que tinham em mãos, resolveram guardar cuidadosamente o diário de Anne e acabaram por entregá-lo a seu pai, Otto Frank, que conseguiu, por pouco, escapar com vida ao tormento de Auchwitz, onde o tinham separado das filhas e da mulher.

Já a mãe de Anne não teve a mesma sorte, tendo morrido no campo de concentração polaco em Janeiro de 1945.



Este diário que começou a ser escrito aos 12 anos por Anne, revela uma maturidade surpreendente, especialmente nas suas partes finais, onde apesar da tristeza há a força exemplar de manter a esperança:

"Realmente, é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente numa selva. Sinto que estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões e, no entanto, se levanto os olhos aos céus, sei que tudo acabará bem, toda essa crueldade desaparecerá e voltarão a paz e a tranquilidade.

Enquanto isso, é necessário que eu mantenha firme meus ideais, pois talvez chegue o dia em que os possa realizar."

domingo, outubro 04, 2009

Mercedes Sosa



Morreu Mercedes Sosa, para mim, uma das mais importantes cantoras do século XX, não só pela sua qualidade musical, mas também pelo importante papel de defensora dos direitos humanos, em momentos em que isso era, quer no seu país, quer na América Latina em geral, particularmente dificil.

Deixo aqui, em simples homenagem, alguns excertos do telegrama da
AFP
, há poucos minutos difundido por todo o mundo!

Junto ainda alguns vídeos que representam um pouco do muito que nos deixou esta grande cantora e grande mulher:

"BUENOS AIRES, Argentina — A cantora argentina Mercedes Sosa, conhecida como 'La Negra', uma das vozes mais famosas da música contemporânea e defensora apaixonada dos direitos humanos, faleceu neste domingo, aos 74 anos, depois de passar duas semanas internada.

A artista receberá as honras reservadas às principais personalidades da Argentina, com o corpo sendo velado neste domingo no Congresso.

Mercedes Sosa, conhecida como 'La Negra' por seu longos cabelos negros, foi uma das artistas argentinas mais populares das últimas quatro décadas

Nascida em 9 de junho de 1935, foi dona de uma das vozes mais representativas do cancionário popular argentino e da América Latina e gravou mais de 40 álbuns."





"A cantora gravou diversos duetos com artistas brasileiros, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Milton Nascimento, Fagner e Beth Carvalho.

Outras estrelas internacionais com as quais dividiu os palcos foram Luciano Pavarotti, Sting, Lucio Dalla, Nana Mouskouri, Tania Libertad, Joan Baez, Andrea Bocelli, Alfredo Kraus, Konstantin Wecker, Silvio Rodríguez, Pablo Milanés, Luz Casal, Ismael Serrano e Shakira.

Sosa foi herdeira e símbolo de um movimento de música folclórica com forte compromisso político que teve como grande nome Atahualpa Yupanqui, que morreu em Paris em 1992.

O corpo da cantora será cremado e as cinzas espalhadas em sua cidade natal de Tucumán, em sua adotiva Mendoza e na capital Buenos Aires, informou a família.
Hospitalizada em 18 de setembro com um grave quadro de insufiência renal e hepática, a artista faleceu na madrugada de domingo.

Activista política, entre os grandes momentos de sua carreira figuram as apresentações que fez na Capela Sistina do Vaticano (1994), no Carnegie Hall de Nova York (2002) e no Coliseu de Roma (2002) para pedir pela paz no Oriente Médio, ao lado de Ray Charles, entre outros.

"Foi a voz dos que não tinham voz na época da ditadura (1976-1983) e levou a angústia pelos direitos humanos na Argentina a todo o mundo", declarou o músico Víctor Heredia, cantor e compositor de algumas músicas que ficaram famosas na voz de Mercedes Sosa como "Razón de Vivir".

.......

Sosa lançou recentemente o álbum duplo "Cantora" e foi indicada este ano para o Grammy Latino por melhor álbum e melhor cantora de álbum folclórico. Nesta obra ela dividiu espaço com artistas como Joan Manuel Serrat, Luis Alberto Spinetta, Caetano Veloso, Shakira, Gustavo Cerati, Charly García, Calle 13 e Joaquín Sabina.

A presidente chilena Michelle Bachelet enviou uma mensagem de admiração à artista, que considerou "a voz mais vigorosa da América latina".

Sosa era considerada uma das maiores difusoras da obra da cantora e compositora chilena Violeta Parra, depois de transformar "Gracias a la vida" em seu tema emblemático.

"Como vocês sabem, 'Gracias a la vida' é uma canção nossa, mas também universal. Há múltiplos artistas de vários países que a gravaram e a tornaram famosa e uma destas vozes é a de Mercedes Sosa", destacou Bachelet."




"Nasci em Tucumán e vivo em Buenos Aires. Sou cantora. Sou viúva. Tenho um filho, Fabián Ernesto, e duas netas. Dirijo um Audi pequeno. Fiquei muito doente e me reencontrei com Deus. Sou progressista. Sou embaixadora do Unicef", se autodefiniu Sosa em uma entrevista em 2000."