segunda-feira, maio 05, 2008

O site do Banco Alimentar Contra a Fome


Há sites que valorizam a imagem das instituições e há outros cujo contributo é... digamos assim... demasiado pequeno!

Há por isso, que não se misturar as coisas. Uma instituição vale pelo faz, pelos seus objectivos e concretizações e não pela maior ou menor felicidade, ou menor ou maior quantidade de informação que circunstancialmente produz!

Faço esta ressalva prévia, tendo em vista o que a seguir vou dizer:

Ontem, numa passagem pelo supermercado, dei conta de mais uma campanha do Banco Alimentar Contra a Fome. Fiz a minha contribuição habitual e resolvi, quando regressei a casa, tirar algumas dúvidas sobre a instituição e a sua actividade. Para isso fui ver o site!

A primeira das dúvidas tinha, aliás, procurado, em vão, esclarecer logo no Supermercado.

É que, com tanta gente a fazer doações, em géneros, para o Banco Alimentar, pagando por eles exactamente o mesmo que pagaria, se comprasse esses bens para consumo próprio, o que acontece é que o primeiro a ganhar com esta acção de beneficência a favor dos mais pobres é mesmo…. o Supermercado!

Procurei pois, verificar no site, se existiria alguma informação sobre possíveis contribuições, dos grupos a que pertencem os super e hipermercados! Não existia!!!

E é pena, pois não me admiro que haja contribuições em géneros, ou de outra índole, por parte dessas Empresas! Mas, estando nós em Portugal, será que o contrário também surpreenderia alguém?

O site diz genericamente, e passo a citar: “O Banco Alimentar recebe toda a qualidade de géneros alimentares, ofertas de empresas e particulares, em muitos casos excedentes de produção da indústria agroalimentar, excedentes agrícolas e da grande distribuição, e ainda produtos de intervenção da União Europeia”.

Verifico aqui que o site se limita a uma descrição genérica, com uma breve referência à grande distribuição.

No entanto, dado que a contribuição popular é realizada através de aquisições nos supermercados, com vantagem imediata para esses estabelecimentos, a doação, dos grupos económicos a que eles pertencem, terão naturalmente um carácter e uma importância diferentes das dos outros contribuidores!

Daí,que seria muito interessante que essas contribuições fossem divulgadas. Se eu possuísse essa informação, o local da minha futura doação levaria decerto em conta esse factor! E a minha forma de olhar esse grupo seria decerto mais ajustada!

Outra dúvida: Quais são os rostos do Banco Alimentar? Quem são os responsáveis pelo seu funcionamento?

Uma obra, como esta, em favor dos mais desprotegidos da comunidade, deveria ter o reconhecimento público da sociedade. Já é tempo de os meios de comunicação deixarem de dar importância a pessoas que apenas passam a vida em festas e a desfilar roupa.

Pessoas que se dedicam a causas deste tipo, que as impulsionam, que lutam por elas, são as que merecem verdadeiramente a notoriedade pública!

Acredito, que sejam pessoas de enorme generosidade e que muitas até gastem a maior parte do seu tempo graciosamente a colaborar com a Instituição e que queiram até manter o anonimato. O site entretanto refere:

Os Bancos Alimentares possuem uma organização logística profissional para: a recolha e o encaminhamento de produtos alimentares; a sua triagem e armazenagem; o controlo de qualidade; rede de frio….

De facto, mesmo as Instituições de benemerência, para serem verdadeiramente úteis, com este nível intenso de actividade, precisam de organização e profissionalismo, para além, é claro, das boas vontades!

Mas, será que neste caso apenas haverá profissionalização da parte logística. Não haverá outros sectores profissionalizados? Não haverá um sistema hierárquico de funcionamento? Com emprego para quantas pessoas? Com que custos?

E como serão financiados esses custos? Apenas por subvenções estatais? Há também doações monetárias particulares? Quais os montantes recebidos? E de despesas fixas e de funcionamento?
No site não vi abordado este assunto!

Refere o site:
Os Bancos Alimentares são instituições não governamentais, apolíticas e não confessionais. Comprometem-se a praticar uma gestão transparente que obedece a regras estritas, idênticas para todos os Bancos. Possuem contabilidade organizada e as contas são auditadas anualmente por uma empresa exterior, que garante a sua idoneidade.

Trata-se naturalmente de uma informação importante! Mas, e relativamente aos critérios de escolha das instituições, para as quais são canalizados os géneros? Há alguma verificação interna e/ou externa relativamente ao seu cumprimento?

E que critérios são esses? O do reconhecimento pelo Estado? E/ou pela Igreja Católica? E/ou por outras confissões religiosas? Outro critério qualquer?
É matéria que igualmente não encontrei no site!

Todas as questões que coloquei até já poderão ter sido objecto de informação por parte do Banco, ou por outra qualquer entidade! Se assim é, muito bem! Óptimo! Desconheço e gostaria de saber a forma de conhecer. No entano, se o Banco Alimentar não fez ainda a divulgação pública deste tipo de dados, acho que o deveria fazer.

Penso ainda que, independentemente de quaisquer relatórios anuais, que possam ser publicados, as informações mais relevantes poderiam ser canalizadas através do site, o qual, hoje em dia, é expectável que constitua um meio privilegiado de divulgação de informação.

Quando assim não acontece, as expectativas de conhecimento da Instituição, ficam prejudicadas para quem naturalmente tem interesse por uma entidade com a notoriedade pública do Banco Alimentar.

Penso, sinceramente, que quando há uma mobilização tão grande da sociedade, durante tanto tempo e uma dimensão tão considerável de meios obtidos por doação, as questões que coloquei terão algum interesse, não podendo por isso um veículo previligiado como a internet limitar-se a pouco mais do que simpáticas generalidades!

Finalmente, desejaria manifestar enquanto cidadão que utilizou o dia de ontem para descansar, o meu reconhecimento pelo empenho e generosidade de todos aqueles que o utilizaram para que se conseguisse efectuar ontem uma recolha tão importante de mantimentos para os mais necessitados!

http://www.bancoalimentar.pt/

8 comentários:

  1. Agradeço a sua visita, as palavras.
    Felicito-o pelo seu blog e por ter o SENSO, de abordar temas tão importantes e delicados.

    Bem-haja!

    Abraços poema,


    joão m. jacinto

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  2. Há pessoas que lá por darem um pacote de farinha e um saco de feijão já julgam ter o direito de dizer o que é que os outros hão-de pôr ou não pôr nos sites.
    Brilhante!!!!

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  3. Caro João Jacinto
    Agradeço igualmente a sua passagem por este espaço e pelas referências simpáticas que exprimiu.
    Um abraço

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  4. Caro Anónimo
    Deixo-lhe igualmente as boas-vindas, referindo que considero a discordância uma coisa absolutamente normal.
    Permito-me apenas rectificar o que mencionou: Não foi feijão e farinha o que doei ao Banco Alimentar. Foram massas e alguns enlatados...
    Como vê os pressupostos não são bem os que referiu!!!
    Cumprimentos.

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  5. Caríssimo, parece que regressou em força e não só amiúde, o que me muito me apraz registar. Esta sua reflexão não deixa, à semelhança de outras, de colocar questões que normalmente não vemos abordadas noutros meios de comunicação mais .... divulgados.
    Pena pessoas acharem que o direito à opinião esteja dependente de alguns factores!... Será que se eu doar 10 pacotes de farinha e 20 sacos de feijão já poderia ter algum "direito de dizer o que os outros hão-de pôr ou não pôr nos sites"? Qual será, para alguns, o referencial de ter esse direito?.... Será que essa gentinha vive neste país? E vivendo, será que faz parte daquela outra gentinha que falava no outro dia o PR?!?!..... Só pode!...

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  6. Caros Amigos,
    devo informar q li atentamente todos os posts e a reflexão.
    na minha visão penso que estão todos sem excepção com as lentes um pouco desfocadas.
    tmb eu contribuo com o meu saco de farinha bi-anualmente.
    mas como o BA também necessita de dinheiro vivo para a sua peq. estrutura logística, envio sempre pelo natal uns simbólicos 10€
    na volta recebo sempre o recibo para o IRS. a quando da publicação do RContas lá aparece na cx correio o dito em papel e o agradecimento pelo meu contributo.
    caso todos tivessem um RC poderiam saber.
    ordenados pessoal x, para 5 pessoas
    20% recolhas + 45% empresas + 35% grandes superfícies = 100% dos alimentos para distribuir.
    (sim as GS contribuem imenso com os produtos de baixa validade)
    1100 instituições, 230000 pessoas assistidas.
    p.f. verifiquem o RC e depois opinem.
    eu n queria dar farinha ao BA. queria dar dinheiro e serem eles a comprar junto do produtor a menor preço, mais produtos.
    e vocês davam o vosso dinheiro em vez de alimentos?

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  7. Caro “Keep….”

    Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário!
    Sinto, pela forma como se expressou, que não entendeu o meu ponto de vista, apesar de, curiosamente, ter acabado por concordar comigo!
    Quanto à questão que me coloca no final do seu comentário, acha-a mesmo relevante?
    Pela primeira vez, custa-me polemizar sobre um assunto, já que a ideia que me parece subjacente a alguns dos comentários é a de que a colocação de questões significa uma posição critica face à actividade ou face à gestão do Banco Alimentar. Por acaso, nem uma coisa, nem outra, apenas e só entendi e entendo que faz falta no site da instituição, alguma informação que me parece relevante.
    Como tal, uso a minha liberdade para perguntar o que acho legitimo perguntar, devendo referir, para além disso, que não vejo nenhuma Instituição, por muito respeito e admiração que sinta por ela, como uma Vaca Sagrada!
    Quando alguém promove acções de benemerência com o seu próprio dinheiro, seria absurdo ou ridículo haver terceiros a colocar questões como as que eu levantei. Contudo, no caso em questão, estamos a falar de acções caritativas feitas com donativos recebidos dos cidadãos e das empresas. Há, portanto, uma diferença essencial, e fico surpreendido, que se ache estranho eu perguntar, por exemplo, pelos critérios de escolha das entidades que recebem os apoios.
    Como esperava que certas informações estivessem espontaneamente disponibilizadas no site pelo Banco, vi que não estavam e abordei no blog esta questão. Tão só!
    Sou remetido para os RC. Bom, isso significa dar-me razão quanto à questão de fundo do meu comentário, reconhecendo que a informação do site não é suficiente!
    Imagine agora, o que seria alguém dirigir-se ao BA, colocar algumas das questões que eu coloquei e ser remetido para os RC. Poderia até ser uma forma simples de responder, mas decerto que não seria a mais inteligente!
    Eu poderia perceber que me dissessem: Não está no site, pois até agora a preocupação principal do BA não foi essa. Perceberia e imaginaria a Comissão de Imagem e Relações Públicas do Banco de Lisboa, por exemplo, a colocar este assunto na sua agenda.
    Poderia também entender que me dissessem que, relativamente às contribuições individualizadas dos grupos de Distribuição, se trata de informação melindrosa e que por isso, o BA prefere não a mencionar. Entenderia, mas continuaria a achar que se trata de algo bastante relevante para os dadores.
    Como já deve ter percebido, quanto aos RC, segui o seu conselho! Procurei-os na NET e dos, salvo erro, 13 Bancos do país, referidos no site, vi que lá se encontravam um relatório de Lisboa de 2006 e dois de Aveiro, mais antigos.
    Li com maior atenção o de Lisboa, e vi então que, para além dos nomes dos responsáveis e da indicação de um índice (?) de despesas de funcionamento, as minhas restantes preocupações não estavam lá abordadas. O que não me surpreendeu, pois os Relatório e Contas têm um objectivo muito específico.
    Saber que foram apoiadas, X instituições é importante, decerto. Mas em nenhuma das questões que coloquei está subjacente uma inquirição sobre a quantidade de entidades apoiadas! Perguntei só pelos critérios!
    Saber as tonelagens de produtos recolhidos em cada uma das lojas, tem um interesse logístico, mas quanto à relação do valor dos produtos que as cadeias de supermercados venderam aos dadores, com os donativos que fizeram fica-se igualmente sem dados.
    Por isso caro “Keep….” Agradeço o conselho, mas… de facto não serviu completamente para matar a minha curiosidade.

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  8. Caro Diz_traído

    Tem toda a razão, depois de algumas semanas de ausência, resolvi voltar.
    Bem-vindo e obrigado pelas suas palavras em tema de alguma polémica, que como bem sabe é algo que não procuro, mas que considero muito saudável, já que há pouco hábito de convívio com o contraditório e ele é uma das traves mestras da democracia.
    Um abraço

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