E mostra o Presidente dos Estados Unidos no funeral da quase centenária activista dos direitos humanos Dorothy Height!
A seguinte também é do mês de Abril deste ano.
E mostra os Reis de Espanha assistindo ao serviço funebre do antigo presidente do Comité Olimpico Internacional Juan Antonio Samaranch.
A seguinte é um pouco mais antiga, é de 2008.
E mostra o Presidente francês Sarkozy à saída do funeral, do também nonagenário, cantor Henri Salvador!
Entretanto, transcrevo do site da TVI algo que vi ser transmitido por aquela estação de televisão:
«O que um Chefe de Estado deve fazer é diferente daquilo que deve ser feito pelos amigos ou deve ser feito pelos conhecidos. Devo dizer que nunca tive o privilégio na minha vida, se me recordo, de alguma vez conhecer ou encontrar José Saramago», declarou o Presidente da República.
Cavaco Silva referiu que na sua qualidade de chefe de Estado emitiu uma «uma nota oficial prestando homenagem à obra literária de José Saramago e ao seu contributo para a projecção da cultura portuguesa no Mundo», enviou uma coroa de flores e promulgou o decreto de declaração de dois dias de luto nacional.
«Hoje de manhã o meu chefe da Casa Civil e o meu chefe da Casa Militar apresentaram sentidas condolências aos familiares de José Saramago», acrescentou.
Interrogado sobre se os restos mortais do Nobel Português devem ir para o Panteão Nacional, disse tratar-se de uma matéria da competência da Assembleia da República.
Recordou ter sido o Parlamento que decidiu a recente trasladação para o Panteão dos restos mortais de Aquilino Ribeiro, o que aconteceu décadas depois da sua morte.
O Presidente da República justificou ainda a sua permanência de férias em S. Miguel, apesar da morte de Saramago, com a importância que para ele tem a palavra dada.
«Todos os portugueses sabem que desde quinta-feira à noite estou nos Açores, em S. Miguel, cumprindo uma promessa que fiz há muito tempo a toda a minha família, filhos e netos, de lhes mostrar as belezas desta região», declarou.
Sinceramente não estou admirado com a ausência física de Cavaco Silva das cerimónias fúnebres de José Saramago. Acho que é uma atitude que está verdadeiramente de acordo com o que já nos habituou!
Dá-se contudo o facto de Saramago ser um escritor laureado com o Prémio Nobel, prestigiado em todo o mundo e Cavaco Silva ser actualmente Presidente da República!
Ora, Cavaco Silva transmitiu-nos com o seu argumentário, uma noção de serviços mínimos protocolares a que se sente obrigado nestas circunstâncias e uma ideia de quais são as suas opções prioritárias.
Cavaco, de facto, não possui uma noção do que é ser Chefe de Estado idêntica à de Obama, Juan Carlos ou Sarkozy.
O Presidente Cavaco mantém-se igual ao que foi o Primeiro-Ministro Cavaco, infelizmente!
Apetece-me perguntar a Sua Excelência, qual será o nível de relevância que terá de possuir um cidadão português, para que o actual Chefe de Estado, perante um momento tão sagrado e definitivo como é o da morte, se digne comparecer pessoalmente para manifestar os seus respeitos?
Fica-me ainda a dúvida, face às palavras do Presidente, sobre se, eventualmente neste caso, o falecido fosse seu amigo, o seu comportamento teria sido o mesmo?
Tudo isto confirma, no entanto, o que já era conhecido sobre o perfil do Presidente Cavaco Silva!
E, por isso, não me parece que discutir esta questão, a poucos meses das eleições presidenciais, seja irrelevante.
A forma infeliz como tratou o caso das supostas “escutas” em Belém, a incoerência que revelou aquando da aprovação da Lei relativa ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, são apenas reflexos da sua fragilidade no cargo, denotando que se mantém um homem de horizontes muito limitados, confundindo uma postura de altivez e arrogância com uma postura de estadista.
Não consigo deixar de recordar alguns factos que ocorreram quando foi primeiro-ministro e que são reveladores das suas falhas básicas de percepção sobre a transversalidade da cultura na sociedade e na vida:
- Foi o seu Governo que entendeu o livro de Saramago "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" como um delito de opinião, tendo agido relativamente a ele, com a inconsciência despudorada de quem não tem a noção de que, em democracia, tal delito não existe. Foi precisamente esta atitude absurda e discriminatória que levou a que Saramago resolvesse fixar-se em Lanzarote!
- Foi nesse mesmo seu Governo, que impune e alegremente, o seu Secretário de Estado da Cultura, Pedro Santana Lopes, ao mesmo tempo que, por razões economicistas, extinguia a orquestra da RDP, afirmava gostar muito do concerto de violino de Chopin, obra que simplesmente não existe!
- Que o próprio Cavaco Silva, à época, para além dos frequentes erros de dicção que evidenciava, revelou não saber quantos Cantos têm os Lusíadas, a principal obra de referência da nossa Literatura e da gesta do povo português no feito mais glorioso da sua História!
Na verdade, só uma flagrante estreiteza cultural, aliada a uma presunção sem limites, permite a alguém dizer de si mesmo, sem corar: “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas!”.
Num país civilizado, um político dissesse esta frase ou não seria considerado sério, ou não poderia ser levado a sério! Que amplitude de visão do mundo e da vida se pode esperar de alguém com limitações de pensamento tão graves como estas?
Lamento sinceramente que, em cinco anos de mandato, este Presidente não se tenha sabido colocar acima de diferenças políticas e ideológicas e dado ao trabalho de promover uma aproximação apaziguadora com um homem, que apesar de ser seu adversário político, se tornou, através do seu talento, no principal embaixador da cultura e da lingua portuguesa no Mundo.
Lamento mais ainda, que perante a morte e o que ela representa, os sentimentos mais primários de desprezo por um adversário político se tenham sobreposto ao que deveria ser a grandeza de alma que se espera de um Chefe de Estado.
Se queria estar ausente dos actos fúnebres de Saramago, ao menos que mantivesse um silêncio inteligente sobre este assunto!
Quando da esquerda e da direita se vai ouvindo o epíteto de mesquinho ou de inábil, relativamente a Cavaco Silva, eu acho que, mais do que isso, ele é simplesmente incapaz de perceber e de exercer com a nobreza e a elevação necessárias o cargo que ocupa!
Como ficou óbvio, eu não sou um apoiante de Cavaco Silva que, ao contrário do que a sua propaganda tem feito crer, desde sempre, não é nenhum "mago das Finanças", ele é tão só um dos muitos professores de Finanças Públicas que existem neste país e apenas mais um dos muitos medíocres Ministros das Finanças que tivemos em Portugal!
Cavaco teve a sorte de, em 1985, conseguir o poder na sequência da morte de Mota Pinto, já quando a crise financeira provocada por um Governo do seu Partido, fora resolvida pelo Governo do Bloco Central, e numa altura em que choveram milhões da CEE, que só viriam a servir para construir autoestradas, subsidiar o abandono da agricultura e o abate da frota pesqueira!
Em consequência de muitos milhões desperdiçados, geridos de forma descontrolada e incapaz, quando 10 anos depois, Cavaco Silva abandona o Governo, deixa a economia de rastos, centenas de empresas falidas, muitos de milhares de trabalhadores com salários em atraso e um défice de 5,8% do PIB!
No meu entendimento, nem as suas características pessoais, nem a sua folha de serviço como primeiro-ministro, nem as suas posições mais recentes, demonstram as qualidades e o perfil necessários para ser o Presidente de Todos os Portugueses.
Não aprecio o seu trabalho passado, nem me consigo ver representado por alguém com uma estatura tão mediocre, que mesmo no Palácio de Belém não consegue passar do nível da marquise da Rua do Possolo!
Não votei, nem votarei nunca nesta pessoa, apesar de, aparentemente, ter aligeirado o seu ar carrancudo e mudado o slogan do "Deixem-nos trabalhar" para o "Deixem-nos estar de Férias"!
Como nota final não posso deixar de lembrar que nos seus discursos mais inflamados e aplaudidos, o actual lider do PSD, a que pertence Cavaco Silva, insiste sempre em que os políticos deverão ser os primeiros a dar o exemplo!
Ora se assim é, agora que propõe alterações às Leis do Trabalho, decerto que não se irá esquecer de propor que, desde que esteja de férias, o trabalhador nunca as terá que alterar, a não ser por razões que tenham que ver com a sua família ou com os seus amigos....
Abstraindo-me de falar sobre Saramago, permito-me apenas duas simples notas: há uma enorme disparidade entre duas situações relativas a este falecimento - a ausência do PR nas cerimónias e o uso de sinais de luto na selecção nacional no jogo contra a Coreia; vai-se do oito ao oitenta.
ResponderEliminarE a incoerência notória de Cavaco, que interrompe as suas férias para fazer comunicações ao país sobre assuntos "da maior importância para o país", a saber o estatuto dos Açores e as escutas de Belém; mas enfim, acaba por ser coerente com a personalidade de Aníbal Cavaco Silva!!!
bom ler ete realato... bom aprender algo com voces... estou, aqui na Austria, nao muito a par de certas personalidades... mas pelo menos vejo que as incoerencias nao existem só no Brasil... que coisa, nao?
ResponderEliminarMeu caro Com senso
ResponderEliminarEste post é excepcionalmente bom.
O nível a que o amigo nos habituou, nos seus posts, é bastante elevado; mas este excede tudo.
Estou perfeiitamente de acordo com a sua opinião; aliás, aqui em família disse exactamente a mesma coisa: a atitude de Cavaco, brilhando pela ausência nas exéquias de Saramago, é inqualificável.
Todos nós nos lembramos - pelo menos quem tem boa memória - das "desinteligências" entre os dois personagens, E penso que não há uma única pessoa que não atribua APENAS a isso a ausência de Cavaco.
Não gostei dele como primeiro ministro, não gosto dele como presidente.
Quanto a Saramago lamento não poder contar com mais livros seus para ler. Como já li toda a sua obra...resta-me reler...
Resto de dia feliz. Beijinhos
Amigo Com Senso,
ResponderEliminarTraduz na sua excelente crónica exactamente o que penso sobre a ausência do PR nas cerimónias fúnebres de José Saramago assim como todas as apreciações que faz com as quais estou plenamente de acordo.
Grata por expor desta forma tão clara e concisa o que muitos portugueses terão pensado e não têm tido a coragem de assumir.
Bem-haja.
Um beijinho, com a minha amizade.
Ailime
(Canto-Meu)
Só para aplaudir o seu post.
ResponderEliminarExcelente em tudo... e até de tanta coerência!
A única coisa que digo, Senso, é que a atitude desse senhor é coerente com todas as outras atitudes que tem tomado ao longo da sua vida pública.
ResponderEliminarVai ser re-eleito?? Não me admirava nada...
Meu caro Com senso
ResponderEliminarCom os meus votos de bom fim de semana um "muito obrigada" pelo seu comentário na "CASA", de que gostei imenso.
Se puder, e quiser, quando e se lhe apetecer... dê notícias de sua Mãe. Tenho pensado nela...
Beijinhos
Ah! Talvez goste do último post do meu HISTÓRIAS.
Acima de tudo vou lamentar se ele for re-eleito...
ResponderEliminarOlá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do blog seara de versos. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs
ResponderEliminarNarroterapia:
Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.
Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.
Abraços
http://narroterapia.blogspot.com/
Há coisas que passam desapercebidas aos menos atentos,não é o que ocorre nos registros daqui.Bom que existem blogs como este que informam porque certos jornais são mesmo muito superficiais...mas a gente sabe que é de propósito,divulgam só o que querem e como querem!
ResponderEliminarAbraços da Itália,Bergilde
Caro amigo,
ResponderEliminarVenho agradecer as tuas amáveis palavras no meu blog e o teu incentivo para continuar apesar do "incidente". Passadas as férias, vou tentar refazer um blog mas tem que ser com calma...
Quanto ao teu post, acho que está muito bem elaborado. Vou confessar-te que não aprecio a política e acho que um PR não devia ser um político. O único presidente que gostei foi o general Eanes e elle, realmente não o era. Sei alguns detalhes sobre os outros PR's que não são a favor deles.
Gosto do Dr Fernando Nobre que vai candidatar-se para as próximas eleições, tem feito um excelente trabalho na AMI mas terá a capacidade de ser PR ?
Beijinhos
Verdinha
Amiga Verdinha
ResponderEliminarConcordo em absoluto consigo, talvez por isso mesmo, cá em casa, desde a curiosidade que suscitou, há muitos anos, o acidente que vitimou Astrid, que seguimos com muita admiração a belissima imagem que Baudouin sempre transmitiu do seu País. O mesmo se passa agora com Alberto! Tenho alguma inveja de não termos um regime semelhante, pois este (só na aparência é mais democrático)já que deixa inevitavelmente a chefia do Estado nas mãos de uma oligarquia mal preparada, que não representa nada em termos históricos, que representa sempre algum grupo de interesses e que por isso mesmo nos prejudica e envergonha.
Um beijinho e votos de boas férias.
Meu caro Com senso
ResponderEliminarNão poderia deixar de agradecer as generosas palavras com que me presenteou no comentário ao meu último post na "CASA".
Estive agora a relê-lo e verifico que o meu amigo captou perfeitamente o sentimento com que escrevi ( e escrevo) estas recordações de África.
É, sim, relembrar "os bons velhos tempos" principalmente porque deles fazem parte (em grande parte) os meus sete anos de África - Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Apesar dos muitos sustos e de muitos momentos complicados que lá vivi, foram, ainda assim, tempos muito felizes, não comparáveis a nenhuns outros que vivi.
Muito obrigada.
Ah! E obrigada também pelo comentário no "HISTÓRIAS".
Atrevi-me a convidá-lo a ir lá porque me "palpitou" que devia gostar do post.
Beijinhos
Que mais se poderia esperar
ResponderEliminardo guarda-livros de Boliqueime...
Saudações daqui.
Meu caro Com senso
ResponderEliminarAproveitando um tempito livre :) estou visitando os comentadores para agradecer a presença nos meus blogs.
Gostei muito do seu comentário no "HISTÓRIAS" (na CASA também...)e verifico que temos gostos (alguns, pelo menos) em comum. Eu também adoro História, servida de qualquer modo - em filmes, romances, crónicas... de todo o geito. Nos meus tempos de estudante era uma das minhas disciplinas favoritas (matemática também, e português acima de tudo!)
Desejo uma boa semana. Beijinhos
Rsrsrsrsrsssssssssss
ResponderEliminarJ E I T O escreve-se com J...
Para quem gosta tanto de português, é uma grande argolada :)))
+ 1 beijinho
Cavaco é Cavaco.
ResponderEliminarTal como o bolo-rei, que é um bolo seco, que só é comido uma vez por ano, quase que por obrigação.
Muitas vezes aparece com uma fava no meio e um brinde pindérico.
Parece que actualmente a fava e o brinde não são permitidos, e o bolo continua a embuchar...
Cavaco infelizmente não aparece apenas uma vez por ano, é seco e as suas intervenções estão ao nível da fava ou do brinde rasca.
Não é mero acaso que se associa Cavaco a essa bolaria que com o tempo vai ganhando bolor
Vivo longe de Portugal e tenho poucas informações relativas aos politicos portugueses.
ResponderEliminarPortanto não posso deixar de concordar com o que diz a respeito do Sr. Cavaco. Um chefe de estado tem certas obrigações independentemente de suas afinidades!
Acrescento que, se em Portugal, muita gente não tem vontade de ver Cavaco reeleito, aqui na França a mesma coisa acontece com respeito a Sarkozy e pelas mesmas razões ou quase!
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Saudações de França*******
Todos fogem sempre como o rabo a seringa....
ResponderEliminarCaro amigo,
Venho agradecer as tuas amáveis palavras acerca do meu blog. Acho que sim, o blog é nosso e temos que o deixar como gostamos mas também é importante para mim saber que as pessoas se sintam bem no meu espaço - e não barafustam ou se vão embora irritadas por não conseguir abrir a porta... - . De facto, se não tivesse a opinião e as visitas dos meus amigos bloguistas, já não tinha muitas razões de ter um blog aberto publicamente, ficaria então com os meus pensamentos só para mim... :)) e acredita que mesmo se às vezes, é difícil conciliar todas as minhas actividades na vida com as visitas à blogsfera (só dos meus amigos, já não consigo ver novos...), sentiria muito a falta delas se eu saisse da net. E tenho a sorte de ser uma pessoa que sofre de solidão !Não tenho tempo de estar sozinha...LOL
Muitos beijinhos e boas férias também !
Verdinha