terça-feira, dezembro 15, 2009

Standards

Constatei já há muito tempo que, ao contrário do que acontece no canto lírico e na música ligeira dos outros países, os cantores portugueses, regra geral não gostam de cantar os “standards” da nossa música.

Cantar um standard é submeter-se a uma prova, a uma comparação inevitável em que, ou se supera o já criado ou, simplesmente, se é mais um a cantar essa música.

Também pode acontecer que haja uma visão tão diferente da canção que leve a uma espécie de recriação do tema, a qual só tem sentido se for mesmo boa.

Interpretar standards é, portanto, um exame a que os artistas de quase todo o mundo voluntariamente se submetem, uma prova permite ao público avaliar melhor as suas capacidades vocais e interpretativas, assim como a da lucidez na escolha de repertório.

Cantar standards é indubitavelmente uma forma de enriquecimento do património que essas peças representam na história da música.

Para mim e para uma grande parte do público e dos críticos “Over de rainbow” é uma prova da excepcionalidade de Judy Garland, mas nem por isso deixou de ser uma aposta de muitas outras vozes, quase todas ficando aquém de Garland e não acrescentando nada à canção.

Contudo, nem por isso, ao longo dos tempos de Doris Day a Eric Clapton, de Frank Sinatra aos The Guns and Roses, mais de uma centena de cantores interpretaram “Over the rainbow”

Vemos aqui Garland, em 1943, cantando-a para os soldados americanos.



Mas quando à partida uma música tem um intérprete excepcional, como foi o caso de Garland, o caminho a seguir é o da recriação!

E foi o caso do surpreendente Israel Kamakawiwo'Ole, que mais de 50 anos depois da canção ser criada, a transformou radicalmente, dando-lhe uma nova dimensão que, por isso mesmo não compete com a versão original!

Esta sua recriação foi um verdadeiro sucesso de vendas em 1993, para mim, perfeitamente justificado.



Israel Kamakawiwo'Ole, mais conhecido no Hawai por Iz, teve um enorme sucesso, mas uma vida muito curta, a sua obesidade acarretou-lhe graves problemas de saúde, chegando a pesar quase 350 kg, o seu coração não resistiu e faleceu com apenas 38 anos em 1997.

Iz deixou com esta canção um legado, havendo agora seguidores que em vez de tentarem imitar Garland, o que na verdade não será nada fácil, pensam que copiar o estilo de Israel Kamakawiwo'Ole pode dar melhor resultado. Também, aqui as imitações não têm tido grande sucesso!

Um dos meus maiores prazeres ao tentar conhecer bem uma canção ligeira é exactamente descobrir novas facetas que novos interpretes podem oferecer a temas consagrados. E é isso mesmo que irei abordar em próximos posts!

5 comentários:

  1. Posso concordar em abstracto contigo, mas neste caso do "Over the rainbow" da Judy Garland,k venha quem vier, mais ou menos original, ela é ÚNICA!

    ResponderEliminar
  2. No nosso país os cantores em geral têm receio de arriscar, porque não estarão seguros dos seus dotes vocais!
    E lembrei-me agora, de um programa que tenho acompanhado na TV em que muitas crianças "dão cartas" a muitos intérpretes com nome feito. Fico a aguardar os seus próximos "posts".
    É uma ideia bem interessante a que se propôs.
    Bem-haja.
    Um beijinho.

    ResponderEliminar
  3. Gostei de muito deste teu texto. Cada música tem uma história e, de certa maneira, continua viva nestas interpretações que surgem. Gostei das duas versões aqui presentes. Cada uma no seu estilo são impecáveis.

    Abraço!

    ResponderEliminar
  4. Meu caro com senso
    Gostei muito deste post; foca um assunto muito interessante, do "arriscar" ou não músicas consagradas.
    Imagino que seja necessária uma certa coragem para um(a) cantor(a) tentar imitar um monstro sagrado da música. Tem que ser mesmo muito bom.
    Para fazer o mesmo que fez Israel Kamakawiwo'Ole... é necessária, igualmente, muita coragem.
    Embora dando a primazia a Judy Garland, (com ou sem Feiticeiro de Oz...) eu adoro esta música, seja quem for que a cante.

    Aguardemos, então, os próximos posts.

    Beijinhos
    Mariazita

    ResponderEliminar
  5. Confesso que não conhecia Israel Kamakawiwo'Ole.
    Gostei muito desta sua versão de Over the rainbow.

    ResponderEliminar